Cinema Autêntico: O Caminho (crítica e download)

O Caminho
Diretor: Emilio Estevez

Desde sempre road movies me atraíram, por vários motivos: por serem filmes caracterizados por carregarem histórias biográficas ou que simplesmente constroem personagens intensos. Entretanto, é fato como nesses filmes não existe a obrigação e a necessidade de que a história pessoal do protagonista seja declarada, ou seja, o motivo pelo qual o levou a ir pelo mundo em sua busca. O essencial é mostrar a viagem por si só: os lugares e as pessoas que ele encontra e como tudo isso reflete no ser humano representado no personagem. Se durante esse percurso ele irá contar sobre seus pesadelos, magoas e arrependimentos do passado é uma escolha do roteirista, não que isso determina se o filme está se tornando profundo ou não. Uma viagem transforma uma pessoa! E de tal forma que os acontecimentos por quem o personagem passa ou as histórias de vida das pessoas que conhece, é mais importante para emocionar e comover do que o passado do personagem.

Começo com minha explicação de road movie para apresentar este filme que se caracteriza por exibir a viagem de um homem em busca de uma última proximidade com seu filho já morto. O Caminho foi lançado em 2010 com direção e roteiro de Emilio Estevez, que também é ator, muito recorrente no final dos anos oitenta e anos noventa, como em O Clube dos Cinco (1985). E aqui ele trás seu pai, Martin Sheen como o protagonista do drama. Não é preciso falar muito de Martin, pois seus filmes e sua carreira estão ai para testemunhar seu talento.

The Way acompanha Tom, médico americano que viaja para a França para recuperar o corpo de seu filho, Daniel (Emilio Estevez) morto numa tempestade enquanto fazia O Caminho de Santiago, rota medieval de peregrinação que atravessa a Espanha. Durante esse percurso, ele conhece três outras pessoas peregrinas que dividem com ele suas histórias, o ajudando de alguma forma a voltar a compreender seu filho. É interessante perceber que embora esse trajeto histórico tenha sido fruto de um culto religioso, a busca dos personagens não está literalmente ligada a isso. Cada um está caminhando pelos problemas de sua vida, seja para acabar com o vicio do cigarro, conseguir inspiração para um livro ou que seja para emagrecer. Mas todos em busca de respostas.

Emilio Estevez (que está cada vez mais parecido com seu pai) faz o papel do filho de Tom, que morreu quando estava iniciando sua viagem pelo Caminho, mas sua imagem é recorrente durante todo o filme. Tom, ao abandonar sua vida para buscar seu filho, percebe a necessidade de seguir os passos dele, com sua mochila, seu mapa e completar essa etapa que o rapaz não pode completar. E com isso Daniel está em todos os momentos: sentado na mesa do jantar no albergue ou batendo o sino na catedral. Talvez essa tenha sido a grande ideia do filme, em tornar a presença tão nítida, sem que a história sofrida que pai e filho tiveram fosse precisamente contada. O passado aqui não é o principal, e sim o presente. Tom está caminhando, junto com Joost, Sarah e Jack, e somente isso é o importante.

Como é comum em road movies, temos aqui fotografia e paisagens sempre belas. A Espanha e suas planícies e fazendas, cidades históricas. Tudo em cores saturadas, mas vivas e realistas. Outro complemento é a trilha sonora, variada com músicas de Coldplay, Alanis Morissette, James Taylor, The Shins e Nick Drake. Todas muito bem colocadas na montagem, e em cenas representativas.

Com o roteiro leve, as boas atuações, o filme explora a comedia e o drama. Para mim foi imediato a vontade de percorrer o Caminho de Santiago com Tom, e embarcar nessa aventura de autoconhecimento. Vale a pena se emocionar com a busca do perdão interior desse homem, enquanto carrega seu filho para um último adeus.