Minha Irmã
Diretora: Ursula Meier
A diretora francesa Ursula Meier já havia chamado minha
atenção pelo seu filme O Lar, em uma história intensa com dois excelentes
protagonistas: Isabelle Huppert e Olivier Gourmet. O que é perceptível é o gosto da cineasta em
explorar relações familiares em contextos adversos. Em L'enfant d'en Haut de
2012 percebemos uma realidade que para a maioria da população brasileira é
ignorada: a de que a pobreza (em vários tipos) existe sim na tão “super”
Europa.
No Festival de Berlim 2012, Ursula Meier ganhou o Urso de
Prata pelo seu trabalho como cineasta, e recebeu uma indicação ao Urso de Ouro
pelo filme. Tal reconhecimento é merecido pelo excelente resultado que tanto
Meier, como os protagonistas Léa Seydoux e Kacey Mottet Klein conseguiram
construir.
L'enfant d'en Haut adquiriu um nome nacional não tão justo a
sua história, pois ao colocar Minha Irmã, se separa da narrativa que é
basicamente feita pelo olhar e vida do “L'enfant” Simon dos Alpes. O filme se foca
na vida e realidade de Simon, garoto de 12 anos que vive com sua irmã
desempregada aos pés das estâncias de luxo de esqui dos Alpes Suíços. Sem
nenhuma perspectiva de vida, sem estudo e tendo que sustentar-se e a irmã,
Simon sobrevive roubando os turistas ricos da estância.
Ursula Meier trata de ser clara ao demonstrar a realidade
obvia de que onde há riqueza, SEMPRE haverá pobreza, e talvez respectiva
em quantidade. Simon é só o fruto da sociedade capitalista e a hipocrisia que o
mundo carrega. E embora o contraste da questão financeira seja o primeiro
impacto que percebemos no filme, é clara a intenção da diretora de que esse não
seja o principal foco da narrativa. Meier não tenta heroicizar o garoto ladrão
claramente, mas explora uma possível explicação para tal comportamento da
criança, e o que a levou a ter esse único meio de sobrevivência. E com isso, o foco principal é a relação de Simon
com sua irmã problemática Louise.
Desde o início percebemos que há um companheirismo entre os
irmãos, mas não cumplicidade. A relação é mais baseada em uma dependência de
solidão, mas que não se mantém de maneira saudável. Entretanto há um sentimento
de amor muito implícito, e o que leva as diversas atitudes dos personagens em vários
momentos. E dessa forma, Ursula retorna a sua ideia de demonstrar a pobreza em sua
totalidade. Aqui não é a falta de dinheiro ou comida a principal miséria dos
personagens, mas a pobreza cultural, emocional e principalmente a afetiva
dessas duas pessoas. Tanto Louise quanto Simon buscam em terceiros o
preenchimento do vazio que ambos não conseguem suprir na relação familiar.
Nesses momentos é sensível a angustia dos personagens tão
bem trabalhados por Léa Seydoux e Kacey Mottet Klein. Ele que anteriormente
havia trabalhado com a diretora em O Lar, brilha em todas as suas cenas
individuais, sustentando o filme quando sozinho ao encarnar o garoto tão inteligente e
esperto que é o Simon. Kacey é brilhante em seu olhar e sua postura recaída diante
da irmã Louise. É comovente perceber que esse garoto faria qualquer coisa para estar perto e ter alguma atenção vinda da parente. Da mesma forma, temos Léa em um dos seus melhores papeis em sua
recente carreira, onde consegue transmitir toda a solidão de um ser humano nas
devidas situações. Em seu olhar mais melancólico que nunca, percebemos como a esperança, as magoa e os sonhos fugiram de suas mãos com as peripécias que a vida nos
prega. Ambos protagonistas conseguiram uma sintonia genial e necessária para a
construção dessa relação carregada de magoa.
O filme Minha Irmã brilha ao nos mostrar a pobreza do ser
humano, e talvez a que mais dói que é a pobreza emocional e afetiva. Tudo é
trabalhado em um cenário e fotografia perfeito, a paisagem do gelo e o luxo dos Alpes
Suíços é o contraste diante da tristeza e pobreza que é a própria relação fraterna do
qual o filme se baseia. A edição que foi muito bem feita, não permite que o
filme caísse na monotonia, mesmo que não tenha uma trilha sonora significativa.
Mas que conduz o filme em um enredo intrigante e que emociona e te leva à
compaixão quando alcança seu clímax. E termina com uma das cenas mais belas que
já vi, a do reconhecimento de que o amor é a maior fonte de união, mesmo diante
de tanto sofrimento.
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Abraços!

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