Direção: Huang Shuqin
A importante e maior representante da arte ocidental na China foi Pan Yu-liang. Nascida em 1899 no vilarejo de Anhui, enfrentou a triste realidade de perder seus pais muito jovem, e ser obrigada a ir viver em um bordel e se tornar prostituta. Nas reviravoltas da vida, se encontrou como artista e migrou para a França onde pôde aperfeiçoar e ser livre para produzir seu trabalho. Utilizando a vida da artista como enredo, Shih Nan escreveu um romance intitulado Hua Hun, que ganhou tradução ocidental de Uma Alma Assombrada Por Uma Pintura, em 1984.
Utilizando o livro como base para escrever o roteiro, a diretora Huang Shuqin (tendo Zhang Yimou como diretor de supervisão) é a responsável por tentar repensar a história da artista no cinema. Uma Alma Assombrada Por Uma Pintura (Hua Hu, China/França, 1994) foi exibido no Festival Internacional de Hong Kong e no Festival de Cannes em 1994.
Vale lembrar que não é a primeira vez que a vida da artista vai para as telas, em um verdadeiro incentivo do governo chinês em reparar a mancada do fato da artista não ter sido nada aceita em seu próprio país. Não é pra tanto que após sua morte, imediatamente suas obras retornaram para a China, sendo exposta e museus importantes de lá.
Levando Gong Li para interpretar a pintora, Huang Shuqin se concentra essencialmente na vida amorosa da personagem, muito mais que sua predestinação às artes. Inicia-se com sua vida difícil no bordel, e mesmo diante dos acontecimentos que se seguiram a sua ida a França para os estudos, sempre o ponto principal era o relacionamento com seu marido Chan-hua Pan. Além da trilha sonora excessivamente melancólica e romantizada, e completamente ocidental, o tipo de edição não ajudou o roteiro. Tudo está muito mesclado em situações muito rápidas, a diretora tenta de alguma forma não neutralizar os acontecimentos. Dessa forma, Huang Shuqin, não escolhe um lado certo, e se perde ao tentar inocentar o governo da sua ignorância e também de salvar Yu-liang da ideia errada que se criaram sobre ela.
É importante conhecer a obra da artista para entender algumas necessidades da linguagem que Huang Shuqin empregou no longa. Tão diferente dos filmes chineses da Quinta Geração, a diretora se preocupa em manter a nudez durante quase todo o filme. Isso porque Pan Yu-liang mantinha a nudez como representações predominantes em sua obra.
Atingida pela beleza do corpo humano, a artista não só pintava outras pessoas, como há si própria. Elemento esse que é o motivo para a denominação do filme Uma Alma Assombrada por uma Pintura, titulo extremamente dramático e que dificilmente se percebe a conexão com o filme claramente. A "possível" obsessão da artista com a determinada pintura é muito sutil e desnecessária no contexto da narrativa.
Acredito muito, que este longa tenha sido financiado pelo governo chinês, em uma busca clara em ter ligações e fazer propagandas no ocidente. Mas o interessante é que a marca dos diretores estão todas lá, e nesse caso distingui um dos poucos elementos em que Zhang Yimou como diretor aplicou no longa da colega Huang Shuqin . Em uma cena tão simples e disfarçada, em plena Revolução Industrial, um carteiro se mostra analfabeto, e o nosso estranhamento é o mesmo do personagem de Tung-Shing Yee. Como ao gosto de Yimou, a sua crítica a esse momento da história tão importante para ele está ali, disfarçada em momentos tão ordinários.
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