A temporada de premiações do
cinema americano já se iniciou nessas últimas semanas com a lista dos indicados
para os diversos prêmios que aconteceram no início de 2016. Vou tentar
acompanhar os filmes e se valerem a pena escrever as críticas aqui.
Todd Haynes apresentou na mostra competitiva do Festival de Cannes deste ano o filme Carol (Carol, EUA/Reino
Unido, 2015), que não levou a Palma de Ouro mas ganhou o prêmio de Melhor Interpretação Feminina para a Rooney
Mara. Esta última protagoniza o filme juntamente com Cate Blanchett que atua como a personagem título e na produção
executiva.
Baseado no livro de 1952 de Patricia Highsmith, trata-se do drama
de duas mulheres insatisfeitas emocionalmente e socialmente, que por uma
eventualidade se encontram e iniciam um romance, que claro não seria totalmente
aceito na época. É fato que o livro da autora busca não só introduzir o
homossexualismo na literatura, mas é uma crítica bastante óbvia do dito american way of life, uma espécie de
tradição forçada aos americanos na década de cinquenta de idealizar a vida. Nítido
do capitalismo absurdo do país, era a lavagem cerebral que fazia com que as
pessoas só se sentissem realizadas pessoalmente se tivesse com o emprego
perfeito, o corpo perfeito, a casa perfeita e a família perfeita, qualquer um
que fugisse a isso eram os ditos “losers” (perdedores). Essa fase da história
americana foi bastante dura, e hoje é reconhecido que muito sofrimento levou
para a sociedade.
Em Carol, Todd Haynes conseguiu
destruir essa idealização ao mostrar o drama de uma mulher divorciada e de uma
jovem que ainda não se afirmou profissionalmente. Com uma direção extremamente sensível,
o filme não só quer retratar uma época passada, mas como se caracteriza
totalmente como um filme do cinema clássico. O seguimento que inicia o filme já
nos mostra a intensão, com o cenário com aparência de um estúdio (quando o
cinema não fazia tomadas externas), a câmera caminha por entre as pessoas até
focalizar no homem que nos direciona para o seguimento seguinte. Se fosse
reproduzido em preto e branco, facilmente se passaria por um filme antigo.
O drama das mulheres foi
totalmente expressado pela linguagem. Therese vivida por Rooney Mara, é uma
jovem inocente, sua postura corporal nos induz a sua ingenuidade e pureza, embora
exista uma angustia dentro de si. Isso foi muito bem expressado pelos ambientes
em que ela atua: seu trabalho é um salão grande e fechado, claustrofóbico como
o seu sentimento por estar profissionalmente incompleta. Ou quando ela se
encontra com um amigo, e o espaço é mais uma vez fechado, a luz da persiana
sobre seu corpo induz a prisão dos valores morais e tradicionais que ela
estaria submetida.
Tudo muda com a introdução de
Carol (Cate Blanchett) na sua vida. Os espaços começam a ser amplos, as cenas
externas são frequentes, ou seja, não existe mais a prisão, a liberdade está
com Carol. Entretanto, a intensão é que possamos entender o que poderia ser um
relacionamento desse tipo na sociedade da época. Todd Haynes entende essa
necessidade e muda constantemente a filmagem para sabermos que é imoral,
proibido. Os enquadramentos de filmagem nas cenas de Carol e Therese juntas são
sempre por detrás de uma porta, ou atrás de um carro, de uma janela, o diretor
nos induz a ver o amor dessas mulheres da mesma forma que elas manifestam, as
escondidas. Uma espécie de voyerismo que ficou extremamente marcante e perfeita para a narrativa.
O figurino de Sandy Powell é
totalmente condizente com o ambiente e com a época. A cor vermelha é a
predominante da narrativa, principalmente por ser uma cor que remete a paixão,
e na personagem Carol ela está sempre presente, e como afirma Pablo Vilaça na
sua crítica: passa ao longo do drama a ser incorporada por Therese em seu
figurino. Ou seja, acompanhamos o nível do envolvimento e sedução que Carol atua
sobre a jovem.
A trilha sonora de Carter Burwell é serena e clássica, com
uma melodia que adoça o ambiente. Talvez essa seja a palavra que expressa
Carol, um filme doce. Haynes não exagera em sensualidades, ele caminha a
narrativa levemente pensada na cabeça de pessoas da década de 1950. Mulheres
que não tinham o menor conhecimento de relações como essas, e por isso Cate e
Rooney privilegiam os olhares, e pequenos gestos expressivos que induz o
espectador a entender como o amor cresceu entre as duas.
Carol recebeu cinco indicações ao
Globo de Ouro, e certamente receberá no Oscar. Não vou falar nada de Cate Blanchett porque é chover no molhado. O fato é que Rooney Mara será
indicada a melhor atriz coadjuvante em ambas, e eu espero que ganhe.
Sinceramente, o merecimento nem viria por esse personagem que embora esteja
muito bem representado, é bastante singelo para ela. Rooney tem uma capacidade
de expressão fortíssima, e com Lisbeth
Salander acho que merecia o prêmio.
Enfim, vamos esperar para ver!
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A sua crítica e compressão da história foram fantásticas. É sempre um prazer ler uma opinião tão enriquecedora.
ResponderExcluirMuito obrigada, agradeço muito o elogio!
ExcluirEu quero abaixar filme cateBlanchett como eu fasso isso
ResponderExcluirOlá, todos os downloads disponíveis no blog são por torrent. Leia o posto http://bellyta1.blogspot.com.br/2014/06/tutorial-torrent.html e aprenda como baixar pelo utorrent, ok? Abraços!
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