Durante os festivais de cinema, sempre ocorre de alguns
filmes passarem despercebidos em meio tantas produções, e por serem pequenos
raramente conseguem distribuição. É o problema da indústria, o mercado que se
movimenta.
Embora tenha sido premiado com o prêmio especial do júri no Sundance 2017, Noviciado (Novitiate, EUA, 2017) recebeu uma
distribuição discreta pela Sony Classics.
Mas não existe nada mais democrático que um torrent, certo? E assim chegou esse
excelente filme até mim.
Margaret Betts escreve e dirige seu primeiro longa
de forma corajosa, ao escolher um tema que cada dia se tona “obsoleto” para a
época que vivemos hoje: religião. A vida de um convento de claustro durante o período
do Concilio Vaticano II é explorada com vários personagens e suas relações
diante de Deus e da igreja, diante da disciplina e da paixão. Entretanto, para conduzir o nosso olhar para a
direção que Margaret deseja, ela coloca Cathleen
(Margaret Qualley) no
centro da narrativa, uma jovem com aspirações puras e inocentes, que está em
busca de um sentido maior de amor. Em contraste a essa jovem, temos a Reverenda Madre, em papel digno de quem
a representou, Melissa Leo.
Essas duas personagens são ao mesmo tempo iguais e opostas.
Ambas possuem a obsessão no amor que idealizaram, mas enquanto uma anseia o transcendental,
o espiritual, a outra se agarra ao método, a disciplina e obediência. A
diretora conseguiu com maestria, criar uma dinâmica fascinante nos conflitos
internos dessas mulheres que escolheram esse caminho.
Entretanto o filme se destaca pela sua excelente
contextualização do período tão revolucionário da igreja, como foi Vaticano II.
Embora as resoluções ali decididas tenham ampliado a comunicação da igreja com o
mundo moderno, o filme foi sincero ao afirmar como ela não foi inclusiva.
Quando a Reverenda Madre diz com dor que “não fomos consultadas sobre isso” é
verdadeiro e interessante. Os métodos medievais e ultraconservadores ainda
reinavam pelos corredores dos conventos das religiosas, mas as revoluções
trazidas pelo Concilio as rebaixaram em status de importância. Ou seja, os
questionamentos existenciais das religiosas são pertinentes: porque tanto sacrifício?
Porque realmente tanto dever e disciplina se somos como qualquer outro católico
praticante? Há quem é esse sacrifício e amor, a Deus ou a igreja?
Noviciado é corajoso ao mostrar uma perspectiva
totalmente diferente das pessoas mais afetadas durante o período histórico. É
corajoso ao mostrar o vazio da existência e da ânsia por afeto que está muito
além de um apelo sexual, mas apenas por contato humano. A busca pelo divino na
humanidade.
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