Zhang Yimou

Biografia e Filmografia (download) de Zhang Yimou

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Preenchendo o Vazio (crítica e download)

Preenchendo o Vazio
Diretora: Rama Burshtein 


Sempre me encantei com a capacidade de um povo afirmar sua cultura e mantê-la viva apesar da modernidade, aperfeiçoando-a com a modernidade. Nunca me permiti apontar o dedo ou menosprezar nenhuma cultura que tende a se manter da mesma forma, e que na visão de nós ocidentais, “modernos”, aparenta ser retrógrada. Realmente isso é uma questão puramente de um ponto de vista diferente.

Em Fill the Void, da diretora estreante Rama Burshtein, temos um retrato da vida de judeus ortodoxos em Telaviv. A própria diretora é um membro dessa comunidade, e antes de trabalhar nesse projeto, fazia filmes para suas companheiras da comunidade. Levou alguns anos para conseguir concluir o projeto e por fim lançar em grandes festivais, como no Festival de Veneza de 2012.

Aqui ela abre as portas das casas dessas pessoas que ainda tem seus costumes de raízes, com uma tentativa de abordagem de distanciamento. E para isso ela utiliza um dos costumes muito comuns em meio aos judeus, e de qualquer forma uma espécie de levirato. 

O roteiro também escrito por Rama Burshtein, conta história de Shira, de 18 anos, e faz parte dessa comunidade ultra-ortodoxa. É a filha mais nova da família Mendelman e está prestes a casar com um jovem promissor, da mesma idade e origem social. É um sonho tornado realidade e Shira sente-se preparada e empolgada. Entretanto, a irmã Esther, de 28 anos, morre durante o parto do primeiro filho, e a família começa a perceber como seria uma resolução dos problemas se caso ela casasse com o cunhado.



O interessante e talvez um problemático é que a diretora aborda tudo sem muitos questionamentos, não existe uma tentativa de ser questionador ou transgressor, Rama simplesmente apresenta seu mundo da maneira como ele é. E talvez por ter essa abordagem, é que o filme não tem mascaras, não possuem artifícios para justificar os costumes que ali são vigentes. As pessoas não são tomadas por maldades, simplesmente vivem da maneira que bem querem e acreditam que seja a melhor forma. 

Um dos pontos mais interessante é perceber como que no filme as mulheres são as mais conservadoras e fechadas para mudanças. São elas que mais incentivam uma menina a se casar, pois acredita que não tem vida se não se casa, ou que força sua filha em um casamento do qual ela não queria. Ao contrario dos homens, que muitas vezes durante o filme se mostraram compreensíveis e aptos para acordos e decisões em família. Entretanto ao mesmo tempo que existe essa questão conservadora das mulheres, percebe-se como elas possuem o domínio da situação. Deve-se entender a cultura para se entender o que significa a importância da mulher. A centralidade do judaísmo esta em casa no lar, por isso que um casamento é tão importante para os judeus ortodoxos, tanto homem ou mulher. Essa é principalmente o essencial da religião, sendo o sentido de ambos de realização. Entretanto, não temos aqui nada autoritário, muito pelo contrario, como disse anteriormente são os homens que entendem e não colocam pressão sobre nada. Existe um conceito do judaísmo que diz "não se casa com uma mulher sem seu consentimento", e Shira entende isso. E é bonito ver o conflito e a dor pela perda da irmã e a dúvida se está respeitando a memoria dela. 



O enredo caminha bem, observando as decisões de Shira a respeito da pressão da família e a duvida de seguir seu coração. Mas mesmo que o final possa aparentar uma aceitação da diretora com o costume estranho do qual seguem, não acredito que seja assim. Durante o filme é visível como ela tinha o direito de escolha, e era visível como ela escolheu seguir seu coração. A cena que termina o filme é linda, realmente emocionante, e que fecha belissimamente o filme.

Sua fotografia é fria, mas realista. Uma trilha sonora alegre de músicas tradicionais que se segue durante todo o filme. Realmente é uma cultura muito diferente, mas em nenhum momento arcaica.Ter tal pensamento é como ter uma blindagem, se incapacitar de perceber a beleza que cada povo pode ter, com sua própria cultura, seus próprios costumes.



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Abraços!


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