Diretor: Frederico Fellini
Frederico Fellini iniciou sua carreira cinematográfica como
um representante do neorrealismo. Já havia trabalhado anteriormente com a
realidade de Rosselini, mas não se perpetuou nesse estilo. O movimento que
surgiu em meio ao final da segunda guerra, tinha como objetivo de passar o mais
perto da realidade que se podia conseguir com o cinema. Em Roma, Cidade Aberta
(Roma, città aperta, Italia, 1945), Rossellini se tornou um frenético em contar
sua ficção, utilizando de vídeos reais da ocupação nazista em 8 mm, com imagens
precárias, mas que passavam a realidade dos acontecimentos na capital italiana.
Esta era sem dúvida a missão do cinema para o diretor, mostrar o que deve ser
mostrado ao mundo. Entretanto, mesmo trabalhando varias vezes com Rosselini e começando
como neorrealista Fellini aos poucos foi deixando sua marca, principalmente ao
questionar: qual a verdade que deve ser passada? O que imaginamos e pensamos
não pode ser a realidade pessoal? Tais questionamentos levaram Fellini a se
tornar um dos maiores cineastas da história, que como ninguém conseguiu passar
tanta sensibilidade nos seus filmes. Comentar sobre a sensibilidade de Fellini
é essencial, principalmente diante do seguinte filme, Noites de Cabíria (Le
Notti di Cabiria, Itália, 1957). Considerado este o último filme “neorrealista”
do diretor, é um dos mais marcantes e belos filmes do cinema.
A prostituta sempre foi um elemento de muita curiosidade e
interesse para as pessoas, pois o sexo foi e sempre será uma infinita fonte de
discussão, de recriminação e suspense. Por mais avançados que estejamos o sexo
ainda não é algo resolvido na mente do ser humano, mesmo que aparentemente
esteja banal. A questão de ser uma relação tão intima com outro ser humano gera
confusões nas pessoas, e por isso o imaginário da prostituta seja tão
atrativo. E dessa forma, utilizando a
história mais clássica e real, que sempre contornaram essas pessoas que vivem
de seu corpo, Fellini constrói uma personagem única e memorável.
Cabíria é uma prostituta já um pouco velha e não muito
bonita, e trabalha nos pontos pobres de Roma. O filme acompanha a vida dessa
mulher em sua realidade diária, de sair de sua casa da periferia. Cabíria faz
parte da nova população italiana que sobreviveu a segunda guerra, e convive com
o crescimento do país. Fellini trabalha com a emoção para mostrar a realidade,
e assim a personagem é sonhadora e de uma vontade de sobreviver incrível! A
dureza da vida é refletida no forte contraste do preto e branco, mas nunca é o
principal, pois não existe um momento se quer em que a esperança está fora de
cena.
Giulietta Masina (esposa de longa data de Fellini) conseguiu
conquistar o público de tal forma que é impossível não se apaixonar por
Cabiria. Não sei dizer quantas vezes a vontade de abraçar e confortar essa
pessoa, tão viva e real, construída por Fellini. Os cenários são as vielas e
zona noturna de Roma, tudo envoltos em uma trilha ideal de Nino Rota. Tudo foi
recompensado com o reconhecimento digno, tendo Giulietta Masina ganhando o
Prêmio de Melhor Performance Feminina em Cannes 1957, e Fellini ganhando um
prêmio especial. Sem falar o Oscar de
Melhor Filme Estrangeiro em 1958.
E como eu sempre digo, e o que me envolve nos filmes é como
conseguem mostrar que a esperança sempre estará viva se quisermos, e Cabiria é
a personagem que mais transmite esse sentimento. Talvez poucas vezes vou
conseguir ver um olhar avassalador como o que recebemos no final de uma obra
tão cruel em mostrar a esperança tão singela.
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Abraços!

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