Diretores: Wash Westmoreland e Richard Glatzer
Realmente filmes independentes é a melhor coisa que um
ator/atriz que ame e tenha a atuação como vocação, busca em sua carreira. Na indústria
cinematográfica cruel que Hollywood se materializa, essas pessoas se agarram a
esses filmes em um desespero visível de pode encarar desafios e mostrar como
que o cinema americano também pode ser arte.
É importe frisar isso, porque em um mesmo ano, em que a
atriz Julianne Moore ganha o Prêmio de Melhor Interpretação Feminina em Cannes
pelo filme de David Cronenberg, Mapa para as Estrelas (Maps to the Stars,
EUA, 2014), ela também encarna uma personagem crucial no blockbuster Jogos
Vorazes: A Esperança Parte I (The Hunger Games: Mockingjay - Part 1, EUA, 2014),
e também se adapta em uma personagem tão humanamente real em Still Alice (Still
Alice, EUA, 2014), dos diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland. Ou seja,
os artistas tem que andar na corda bamba, dançar conforme a música que Hollywood
sempre estipulou, mas ainda tendo chances de sobressair sendo “grande
bilheteria”, ou o filme que ninguém conhece.
Lançado no Festival de Toronto deste ano, e baseado no livro
de Lisa Genova, Still Alice é um filme essencial. Aqui os diretores conseguiram
mostrar uma fração de um tipo de sofrimento que não é tanto explorado
cinematograficamente. Semelhante a este é Escolha de Vida (A Short Stay In
Switzerland, Reino Unido, 2009) de Simon Curtis, que nos faz acompanhar
o sofrimento de uma mulher que luta por sua doença degenerativa, vivida pela
super Julie Walters.
Esses dois filmes são tão diferentes da mesma fórmula que Hollywood
explora. Sempre encontramos filmes melodramáticos sobre pessoas com câncer (e
de maneira nenhuma menosprezo esse sofrimento), mas ao colocar a personagem
Alice dizendo “Eu preferia ter câncer”, Glatzer e Wash já nos mostra como essas
histórias não tem vez nas películas. Quem não se emociona com um jovem bonito e
corajoso que se apaixona, e veja só, tem câncer terminal? Todas as estórias são
tão idealizadas e fantasiosas que a emoção do público parte do romance e não da
cruel realidade de uma pessoa que tem uma doença terminal.
Agora voltemos para Still Alice: uma mulher jovem, muito bem
casada, três filhos bem direcionados, estudiosa e cientista, e veja só: Alzheimer.
Os diretores trabalham em nos mostrar como deve ser esquecer-se de si mesmo, perder
do seu eu. E para que essa sensação seja
passada para nós, o sofrimento aqui é por encarar a efemeridade de tudo que
temos. Para mim é difícil escrever sobre
isso, porque eu não consigo imaginar como é viver assim. Mas Glatzer e Wash
consegue de maneira muito respeitosa oferecer uma mão a essas histórias tão
esquecidas por nós.
Aqui acompanhamos a passos lentos o esforço da personagem a
se agarrar a sua vida normal, em manter a família firme e não ficar desesperada, embora ela esteja internamente. Julianne Moore consegue de forma tão emocionante
passar toda a confusão e angústia que uma mulher nas seguintes situações estaria
com seu corpo perdendo pouco a pouco as ordens de sua mente. E para auxiliar o
trabalho da atriz, os diretores nos apresentam um filme com uma nevoa, uma
neblina. Praticamente sem nenhuma trilha sonora, a fotografia com cores neutras e uma câmera tremida e embaçada
durante todo o filme, não só quando é Alice em momentos conflituosos, mas em
todos os momentos. Pois tudo é o mundo dela, e esse mundo está se tonando
nebuloso e confuso. Esse é um ponto alto do filme, pois essa inquietação e
desconforto são passados para nós. Além disso Glatzer e Wash nos mostra a realidade da doença que torna as pessoas crianças novamente, retornando pouco a pouco a infantilidade e a dependência, os diretores evidenciam isso ao finalizar o filme com a imagem de Alice criança, sendo este seu futuro.
E ainda temos um elenco muito bem formado e comprometido com
o projeto. Não falo somente por Moore, mas também por Kristen Stewart que
embora ainda não convença totalmente, é visível o esforço dela, e a tentativa
de se livrar das garras da vampira Bella. Complementado também por Alec
Baldwin, no personagem realista do marido, e Kate Bosworth e Hunter Parrish
como os outros filhos de Alice. Não vou comentar sobre possíveis indicações ao Oscar, porque realmente isso não é o importante. A Academia desistiu há muito
tempo de premiar quem realmente vale a pena.
Still Alice é emocionante por ser real, por não usar de artifícios
além da eventualidade do fato que exista doenças, e que essas doenças são democráticas
e podem chegar a qualquer ser humano do planeta, e que não podemos fugir disso.
E os diretores não querem somente isso, querem também que as pessoas portadoras
de doenças degenerativas como Alzheimer sejam vistas, e sejam tratadas
com respeito. Ao não colocar um idoso tendo a “doença de velho”, e sim uma
mulher totalmente produtiva e intelectual doente, Glatzer e Wash nos faz pensar sobre como
lidamos com isso, e refletir sobre essa doença que está cada vez mais comum na
população.
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