Zhang Yimou

Biografia e Filmografia (download) de Zhang Yimou

terça-feira, 20 de outubro de 2015

The Assassin (crítica e download)


No Festival de Cannes deste ano, Hou Hsiao-Hsien ganhou o Prêmio de Melhor Direção pelo seu trabalho em The Assassin (Nie Yinniang, Taiwan/China/Hong Kong, 2015). Primoroso trabalho, para ser mais exata. Após dar uma lida em duas críticas de um pessoal de Portugal sobre o filme,  choquei e pensativa vi como o cinema é subjetivo no que tange a sensibilidade de cada espectador. Enfim, ler coisas do tipo “extrema indiferença emocional” sobre The Assassin mostra como cada olhar é pessoal.

É obvio que em questões da técnica existem teorias que podemos enquadrar no quesito “bem feito” ou “mal feito”, pois são de uma concepção geral surgidas por base de estudos e que devem ser respeitadas. Mas isso não alcança a capacidade emocional que cada pessoa que assiste a um filme terá. Isso sim é subjetivo e relativo. Mas vamos voltar ao filme.


Hou Hsiao-Hsien é chinês e tem uma carreira de peso em termos de qualidade. Existe uma elegância e uma classe em suas narrativas que são únicas. De forma sempre harmoniosa ele consegue capturar emoção sincera e realista no silêncio. Acredito que isso seja a sua principal característica, a forma tão bela de dar valor aos gestos corporais em detrimento da voz. Sempre em seus filmes há uma proximidade com o estilo de Yasujiro Ozu, mas em The Assassin existem um toque muito delicado de Kurosawa. Embora ambos diretores sejam japoneses, este filme em questão é uma desconstrução do wuxia.

O respeito pelo silêncio humano aqui é preservado, mas é quebrado pelo pertinente som da natureza, que Hou Hsiao-Hsien torna essencial para acompanharmos a narrativa. A história se passa no século IX, e temos a personagem título Nie Yinniang (Qi Shu). Foi tirada de sua família aos dez anos por uma freira taoísta que a introduziu perfeitamente nas artes marciais. Por uma punição ela é enviada novamente ao seio da família, e com a missão de matar seu primo e antigo pretendente Tian Ji'an (Chen Chang). E assim começa o drama desta mulher, em retornar para um lugar estranho, com uma missão que ela não está preparada para encarar - não em termos de força física, mas de força emocional.


Com um prólogo em preto e branco, Hou Hsiao-Hsien nos inicia na vida dela de maneira seca, uma reflexão ao interior já conturbado e ansioso que ela se encontra. Sua vida ganha cores quando retorna para sua terra, mas as cores não refletem o sentimento da personagem. Isso é visível na expressão corporal retraída e tímida, no olhar tão pesado e doloroso que Qi Shu conseguiu colocar na protagonista Yinniang. Esse aspecto é notável em uma das cenas: o enquadramento fixo, que só muda em um único momento para revelar o choro abafado e contido há tempos da personagem, é uma das emocionantes que eu já vi. A impotência da mulher diante do seu destino e missão é doloroso de acompanhar, e impossível não se sensibilizar por ela.

Impossível porque Hou Hsiao-Hsien não deixa o trabalho só nas mãos de Qi Shu, ele constrói uma pintura maravilhosa visualmente. Os enquadramentos são simétricos e fixos, as cores dos tecidos e cenários são belíssimas. Visualmente é um dos melhores que já vi na vida, perdendo talvez para o meu querido Herói (Yīngxióng, China, 2002). Perdendo no sentido de minha estima, não de técnica, visto que The Assassin foi trabalhado com a fotografia guiada por Ping Bin Lee. Este que executou a direção de fotografia dos filmes anteriores de Hou Hsiao-Hsien como Três Tempos (Zui hao de shi guang, Taiwan/China, 2005) e Millennium Mambo (Qian xi man po, Taiwan/China, 2001) – ambos com a atriz Qi Shu -, também trabalhou no maravilhoso Amor à Flor da Pele (Fa yeung nin wa, Hong Kong/China, 2000) do senhor Kar Wai Wong.


Inclusive podemos ver que essa escolha pelo wuxia parte de uma necessidade desses grandes diretores contemporâneos a Hou Hsiao-Hsien em se aproximar do cinema de massa. Isso iniciou com o próprio Kar Wai Wong em Cinzas do Passado Redux (Dung che sai duk, Hong Kong/China, 1994), prosseguido por Herói (Yīngxióng, China, 2002) de Zhang Yimou. Não é uma competição, mas é o reconhecimento das possibilidades que esse gênero consegue proporcionar.

Hou Hsiao-Hsien não só fez o seu próprio wuxia, mas desconstruiu o estilo padrão do gênero. São pouquíssimas as cenas de luta, e quando ocorrem são extremamente belas e singelas se compararmos aos homens voadores dos filmes comuns do estilo. O diretor priorizou o sentimento que existe na narrativa, tornou a assassina em alguém completamente cabível de ser amável, e não dá muitas margens para que exista a formação do “bonzinho” e do “vilão”.


O diretor não queria um filme comum, e conseguiu. Sempre achei que tudo o que Hou Hsiao-Hsien faz é moderno para o cenário cinematográfico que ele se coloca, e não mudou em The Assassin. Ele constrói uma obra de arte plástica brilhante, em um ambiente dramático, mascarado por uma lenda histórica da fantasia, mas que faz uma enorme diferença na cinegrafia mundial.


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