Não existem pessoas com a melhor
capacidade de criar filmes sobre vingança do que os coreanos, fato. Inegável
que essa fama surgiu por meio de Park
Chan-Wook, que no inicio dos anos 2000 apresentou sua magnum opus Trilogia da Vingança, com os excelentes Senhor Vingança, Oldboy e Lady Vingança.
Após esses filmes, o cinema coreano foi apresentado internacionalmente definitivamente
no setor do suspense, com excelentes projetos posteriores.
Park Chan-Wook é o cara. Assim
como Tarantino, o diretor coreano usa a violência como suporte para a
narrativa, mas ela não se finaliza em si mesma. Ambos os diretores a utilizam
como uma característica estética para a criação do filme. Vingança é violência, e para Park isso é
levado muito a sério, mesmo que não seja obvia.
Em A Criada (Ah-ga-ssi,
Coreia do Sul, 2016), a violência psicologia e emocional é constante. Com
estreia em Cannes no ano passado, este é o filme mais leve do diretor, e o mais
bem produzido em termos de estética. Inspirado no livro Fingersmith de Sarah
Waters, Park criou um roteiro com estilo pessoal em cada momento, e sua versão
final extremamente criativa não permite que você sinta às duas horas e meia de
duração desperdiçadas.
A narrativa apresenta a jovem Sookee (Kim Tae-ri) que é contratada para trabalhar para uma herdeira
nipônica, Hideko (Kim Min-Hee), que leva uma vida isolada
ao lado do tio autoritário. Só que Sookee guarda um segredo: ela e um vigarista
(Jung-woo Ha) planejam desposar a
herdeira, roubar sua fortuna e trancafiá-la em um sanatório. Tudo corre bem com
o plano, até que Sookee aos poucos começa a compreender as motivações de
Hideko. Vale ressaltar que no ocidente a tradução do titulo foi mal empregada:
Ah-ga-ssi em coreano significa Senhorita, ou seja, Lady Hideko. Por motivos
talvez estéticos da sonoridade do título, o ocidente adotou The Handmaiden, ou
seja, a serva Sookee.
Park apresentou personagens tão
bem construídos, com a escolha do elenco perfeita. Detalhe para a estreante Kim
Tae-ri, que em um grupo de 1500 mulheres foi escolhida pelo diretor em menos de
cinco minutos de audição, é uma atriz completa com tamanha espontaneidade que
dificilmente se vê em atrizes de longa carreira. A química desta com os
veteranos Kim Mim-Hee e Jung-woo Ha torna o brilhantismo do filme ainda maior.
Detalhe para o trabalho do
diretor de fotografia Chung-hoon Chun, que construiu um trabalho maravilhoso
com enquadramentos lindíssimos. O trabalho dele foi bem auxiliado com os
figurinos de qualidade visível e as cores do cenário que tornam a mansão
charmosamente sombria.
A Criada não é apenas um filme com roteiro intrigante e reviravolta prazerosa de assistir. Park se preocupou de colocar a narrativa do ponto de vista feminino, com sentimentos de mulheres que vivem em um mundo opressor, em um país em processo de identificação nacional. E para exaltar mais ainda a presença delas, ele cria personagens masculinos que levados pelo desejo e ganancia beiram ao patético. Park apresentou sinais dos acontecimentos que se seguiriam durante toda a narrativa, tudo claramente aos olhos do personagem do Conde. Mas este, com sua vaidade, desejo e a descrença na inteligência da mulher não viu o que era obvio.
O diretor disse em entrevista que seu objetivo era criar um
filme feminista, e conseguiu de alguma forma. Embora as cenas de sexo sejam
idealizadas (como toda e qualquer cena de sexo no cinema), acredito que
conseguiu manter o tom de erotização necessário no nível correto. Seria hipócrita e realmente machista se Park
colocasse somente a personagem Lady Hideko excitando os homens (como o objeto
que ela representa) e não apresentasse cenas sinceras da mesma sentindo prazer.
Ao final, a vitória feminina não é algo
forçado, é algo digno da força que essas personagens apresentam, e a força das
mesmas em vencer as barreiras.
Ultimo comentário a respeito da trilha sonora de Yeong-wook
Jo, uma das melhores que já vi em aspecto de harmonia com o filme.
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Abraços!
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