A História de Qiu Ju (crítica e download)

A história de Qiu Ju
Diretor: Zhang Yimou

"As pessoas na miséria é o que mais importa na arte" - Zhang Yimou

A China sempre foi um dos lugares mais fascinante para mim. E isso se deve a tudo: a sua paisagem diferente, fauna e flora, mas principalmente por ter a cultura mais rica da Ásia. Seu povo é tão diferente e interessante que talvez por isso me apaixonei por Zhang Yimou. Além de nos apresentar sua cultura em todas as totalidades de cores e fantasia, ele também nos mostra a realidade crua, de um povo muitas vezes teimoso, mas perseverante. Gosto de pensar como os chineses se assemelham com os brasileiros, porque na essência do povo vem uma garra e uma vontade grande de superar o sofrimento.

E assim temos A História de Qiu Ju, filme de 1992 e o quinto filme em que Gong Li e Zhang Yimou trabalharam juntos. Foi ai que as autoridades chinesas começaram a ficar de olho no casal, principalmente por ser tão questionador e realista. E ainda por cima ganhador do Leão de Ouro de melhor filme no Festival de Veneza e Gong Li como melhor atriz. Ou seja, muita visibilidade para um filme, que aos olhos do governo não era saudável de ser visto pelo mundo. Depois veio Tempos de Viver, e foi o “conselho” para que Zhang Yimou se ausentasse do país por uns meses e o filme banido da China até hoje. Enfim, isso não impediu que ele continuasse a filmar seu país, mas um pouco menos duro depois disso. Mas ainda com remanescentes da época com Nenhum a Menos, que ligeiramente se assemelha a este filme em questão.

Os dois filmes se assemelham por serem os dois focados na vida dos camponeses e nos temos atuais, pós Revolução Cultural chinesa e modernidade. A História de Qiu Ju narra a saga da personagem que dá nome ao título do filme, onde ela busca com as autoridades justiça quando seu marido é agredido pelo líder comunitário da aldeia. E então acompanhamos a jovem grávida e prestes a dar a luz andando de um lado e pro outro atrás de todas as instâncias para conseguir sua “explicação”. Da mesma forma que Nenhum a Menos, sentimos como o povo chinês é persistente e um tanto que teimoso. Tanto Qiu Ju quanto o chefe da aldeia,  são teimosos e orgulhosos e não dão o braço a torcer. Realmente, não desistem!

Mas Zhang Yimou trabalha com a peculiaridade do seu povo, mostrando o que deve ser mostrado: as pessoas sem instrução, analfabetas e ingênuas. Camponeses que vivem da terra, indo para a cidade. São pessoas que estão perdidas em meio a um governo burocrático e idealista. E o diretor explora a ingenuidade das pessoas humildes que estranham o comportamento das autoridades por não facilitarem em nada a vida deles. 

Os diálogos no filme são tão geniais, que me assustei como Yimou saiu dessa! Ver Qiu Ju tentando entender o porquê de recorrer a um delegado, se o dinheiro ajudava a facilitar as coisas, ou como ela e a irmã lutam para se “disfarçar” na cidade. E tudo em um inverno que se sente ser de arrasar, os personagens estão envoltos em roupas de frio, e trabalhando, sempre trabalhando. 

Eu simplesmente amo a capacidade de Yimou ser tão questionador sem precisar explorar problemas grandiosos demais, e graves demais. São em coisas simples e cotidianas, e principalmente mostrando a vida da maioria da população, a camponesa, que ele coloca sua opinião sobre o governo. Seja por causa da lei do filho único, ou sobre a pobreza das pessoas. E como sempre é realmente incrível ver Gong Li atuando! Todas as vezes que eu assisto a um filme dela, eu a adoro mais ainda, porque acho incrível a sua expressão facial e sua facilidade de ser uma camponesa analfabeta, como também uma prostituta, ou uma mãe sofredora, uma traficante de drogas, ou mulher fatal! Uma das melhores atrizes que eu já vi!

Simplesmente não sabia os momentos certos de rir ou de me revoltar durante o filme. Tudo isso é totalmente aceito aqui, pouco beira o cômico o drama de Qiu Ju. Mas não é cômico, é real e muito possível de acontecer. Uma personagem simplesmente memorável, como tantas outras de Zhang Yimou, e que explora a angustia e a sensação de, porque não dizer injustiça, no final. O finalizar de um filme que demonstra toda a impotência diante da burocracia.

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