No ano de 2010, o Balé Nacional
da China se apresentou na minha cidade, com o espetáculo Lanternas Vermelhas. Dirigido
pelo próprio Zhang Yimou, na época eu ainda estava descobrindo o seu universo,
e só fui saber mais tarde que existia um filme do qual foi derivado à peça. Da
mesma emoção que senti ao ver o espetáculo, senti ao ver o filme.
Lançado em 1991, o filme trás
Gong Li como a protagonista, em um dos filmes mais conhecidos do diretor e mais
estimados. Ganhou uma infinidade de prêmios, inclusive o Leão de Prata e o
FIPRESCI no Festival de Veneza 1991.
Retornando a China de tempos atrás, Zhang Yimou este ambiente para os conflitos que pretende tratar. Nos créditos iniciais ouvimos a
música que seria marcante durante todo o filme, pois os conflitos do drama seriam
sempre embalados por essa melodia forte e estridente. A personagem principal é
apresentada em uma tomada longa, em que em seu monologo já direciona o conflito
que o filme trata de abordar: a obrigação do casamento. Zhang a coloca diante
da câmera sem que a mesma olhe para o espectador, enquanto acompanhamos a
resignação diante da inferioridade das mulheres na sociedade chinesa. É visível
como o diretor sempre se preocupou que seus filmes tivessem como protagonistas
mulheres: sempre discutindo o valor da mulher na China desde os tempos
passados, se estendendo desde o enfrentamento à dura tradição chinesa aos
tempos atuais, nos quais tem desempenhado importante ferramenta de alcance ao
crescimento do país.
Repetindo a questão do casamento,
assim como em Sorgo Vermelho, o desfecho trágico do cortejo matrimonial não é
encontrado em Lanternas Vermelhas. Agora acompanhamos a protagonista que surge
em roupas típicas de estudantes e caminha sozinha para a casa do futuro marido.
Assim, Zhang apresenta sem que isso seja dito pela boca de personagens a
personalidade da heroína. Uma mulher altiva que segue a tradição contra sua
própria vontade.
O drama da personagem Songlian
(Gong Li), é passado nos anos vinte. Essa jovem se torna a quarta esposa de um
homem rico, passa a viver em sua casa em que cada uma das esposas possui sua
própria residência. A questão da inferioridade da mulher se inicia
primeiramente quando se percebe que as mulheres não tem seu nome dito, é “a
primeira esposa”, a “segunda esposa”. Zhang Yimou introduz o espectador ao
filme identificando que o universo é apenas a residência do homem rico. Aquele
é o único universo que essas mulheres conhecem, e por ele disputam espaço. O filme é dividido nas quatro estações do ano, e de certa forma cada estação reflete a personalidade dessas quatro esposas. O inverno é a primeira esposa, fria, seca e distante; o outono se materializa na segunda esposa, na meia idade luta por negar a infertilidade decorrente do tempo; a primavera é a terceira esposa, bela e harmoniosa, artista e encantadora; o verão é a quarta esposa (Songlian), jovem, fresca e quente.
Mesmo trabalhando em cenas muito
longas, com enquadramento fixo, ele utiliza novamente a cor vermelha como a
marca que simboliza o drama em Lanternas Vermelhas. Assim como a música, a cor
se encontra nos momentos mais conturbados: as lanternas que iluminam a casa da
esposa escolhida da noite é a alimentação do ódio entre as mulheres. Assim
ocorre durante a primeira noite de Songlian (Gong Li) com o marido, em que o
vermelho da fotografia é saturado, em comparação com as outras cenas. Também
acontece no figurino, quando alguma das esposas começa alguma manifestação
conflituosa, o vermelho está presente (como acontece quando a terceira esposa,
Meishan canta no telhado para acordar a jovem noiva, ou quando Songlian
interroga e maltrata sua serviçal). O vermelho é a cor do ciclo interminável da
vida dessas mulheres e conflito de final trágico inevitável desse universo. O
término é, na verdade, o retorno ao início, com a personagem vestindo as mesmas
roupas nas quais o vermelho, demarca a repetição do ciclo.
Característica muito explorada
pelo autor é a origem ordinária de conflitos violentos. Em Lanternas Vermelhas (Da hong deng long gao fao gua, China, 1991), tudo gira em torno de uma massagem nos pés, que a esposa escolhida pelo senhor
receberia antes do mesmo passar a noite com ela. E dessa forma, Zhang
transforma esse simples ato na forma de hierarquização e dominância masculina. São
traições e brigas que ocorrem entre as mulheres, que nem ao menos o senhor está
presente. Além disso, o diretor discute a questão da forte tradição que ainda
enraíza a sociedade chinesa, o machismo.
Tudo isso é mesclado com uma
trilha sonora inconfundível e inesquecível. Defino o filme simplesmente como uma
poesia e uma pintura em movimento.
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Filme Online (Youtube):







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