Cinema Autêntico: Ligações Perigosas (crítica e download)

Ligações Perigosas

Diretor: Jin-ho Hur

No ano de 1988, o filme Ligações Perigosas dirigido por Stephen Frears e com um elenco de talento, com John Malkovich, Glenn Close e Michelle Pfeiffer nos papeis principais, foi a estreia do diretor em solos americanos muito bem sucedida. Resultados foram sete indicações ao Oscar, vencido três delas, e também o BAFTA de melhor filme estrangeiro. Baseado no clássico da literatura francesa Les liaisons dangereuses, de Pierre Choderlos de Laclos, o filme merecedor de todos os prêmios é intenso, com atuações perfeitas e que se transformou em um clássico. Várias versões vieram depois, mas esta em é uma das melhores já feitas.

Nesta versão de 2012 do diretor coreano Jin-ho Hur, temos uma época e ambiente diferente. A história se transfere para Xangai nas primeiras décadas do século XX, nos tempos em que a influencia inglesa estava em alta, modificando a cultura local. O chinês é falado com mistura com o idioma inglês, as roupas são modernas e ocidentalizadas, o tipo de música é americanizado, ate mesmo os edifícios tem sua arquitetura diferente da tradicional chinesa. E a alta sociedade vive toda a sua efervescência e luxuosa vida fútil, com bailes, festas e orgias. Tudo bancadas pelo dinheiro que essa parte da população tinha, e aos montes. E mais do que nunca, essas pessoas tem seus caprichos e desejos de cumpri-los, e ai a história começa.

Como baseado no texto francês, narra a aposta feita por Mo Jieyu com seu amante Xie Yifan, onde ele teria que seduzir a sua prima viúva Du Fenyu. Um roteiro extremamente detalhista e engenhoso, que se preocupa de não deixar nenhum dialogo inacabado e sempre te incentivando a se firmar na cadeira e esperar o desenrolar dessa trama. Acompanhamos as artimanhas do casal em seduzir quem quer que seja e passar por cima de qualquer um para conseguir satisfazer seus caprichos. Mas mesmo sendo nesses meios, surge uma personagem curiosa, Mo Jieyu. Conhecendo a cultura chinesa como conheço, é realmente interessante ver uma mulher nos anos vinte a trinta, totalmente independente. Mo Jieyu faz o que bem lhe entender por ser uma mulher de negócios, e desprovida da necessidade de dar satisfação dos seus atos. Interessante se pensar na construção de um personagem tão moderno em uma época antes da revolução cultural chinesa. Na verdade todo esse filme é marcado por esse tempo antes da tomada dos comunistas no poder, da alta sociedade.

Todas as cenas protagonizadas pelo trio com ótima química, formado por Jang Dong-gun, Cecilia Cheung e a sempre cativante e encantadora Zhang Ziyi, são tão intensas, emocionantes em cada gesto das mãos ou em cada olhar. A cena da estufa, pessoalmente falando, foi uma das mais belas e eróticas que já vi. O close do momento nos rostos foi tão brilhante que você se sente magnetizado com a cena.

Além disso, temos uma fotografia iluminada, um uso talvez exagerado de efeitos especiais para reproduzir a Xangai do passado, mas nada que atrapalhasse o filme como um todo. Por mais que um filme possua as qualidades técnicas excepcionais, isso nunca vai conseguir ser superior a um roteiro bem feito e um enredo interessante. Mas aqui está tudo sobre controle, e bem resolvido. Uma trilha sonora tranquila e ideal, mas não marcante.

Ótimas atuações em um roteiro que remete aos tempos de luxo de uma China que não existe mais.