Zhang Yimou

Biografia e Filmografia (download) de Zhang Yimou

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A Fonte das Mulheres (crítica e download)


Todos os filmes de Radu Mihaileanu são caracterizados como “comédia/drama”, um dos únicos diretores que conseguem de forma perfeita englobar dois estilos cinematográficos que geralmente são distintos. A Fonte das Mulheres (La Source des Femmes, França/Itália/Bélgica, 2011) era o único filme do diretor romeno que ainda não tinha visto.

Utilizando mais uma vez a religião como combustível principal da trama, Radu cria uma narrativa sobre a cultura árabe e o islã. Seus filmes anteriores trouxeram o judiamos (visto que o diretor é judeu) como protagonista, em A Fonte das Mulheres o islã é colocado em discussão com as oportunidades e direitos das mulheres.


Em um vilarejo no meio das montanhas provavelmente entre o Norte da África e o Oriente Médio, a seca assola a região a mais de 10 anos. Com isso, a única oportunidade de pegar agua está em uma fonte que fica no alto da montanha, e uma subida sinuosa e perigosa. As mulheres que são as responsáveis de ir buscar a água, entretanto diante dos vários abortos que as mesmas passam a ter diante da subida perigosa, elas resolvem se revoltar contra o machismo dos homens da aldeia, e exigem que eles as ajudem. Para isso elas utilizam a estratégia de greve de sexo.

A cena inicial é bastante elaborada e que define claramente o que seria a vida diária daquelas mulheres. Ao mesmo tempo que uma mulher está dando a luz, outra está perdendo a criança. E nessa mesma cena, o diretor inclui o elemento principal da vida e o que seria o causador de todo o conflito da narrativa, a água. A mulher desce a montanha com a água, a água que que limpa o suor e a criança que acaba de nascer. Um dos melhores prólogos que já vi em um filme, com certeza.


A Fonte das Mulheres é um dos poucos filmes feitos por estrangeiros que conseguem de forma bastante convincente e respeitosa mostrar como realmente se constitui uma determina cultura. É obvio que existe o extremismo em vários lugares e em vários níveis, entretanto este não é a maioria. Radu se preocupa em mostrar que o machismo e sexismo é algo que é perpetuado por base da distorção da teoria religiosa que se segue. Isto é visto claramente no seguimento tão interessante da conversa das mulheres com o líder religioso da aldeia, onde se discutem com uma interpretação coerente do Alcorão. Inclusive é o imã que se mostra o mais coerente dos homens e o mais propenso a ouvi-las, pois é ele que mais conhece a religião e as palavras do profeta Maomé. Como sempre ocorreu em todas as religiões, tudo é distorcido para agradar algum setor da sociedade, e no caso da narrativa é mais fácil, visto a quantidade de pessoas analfabetas, homens ou mulheres.

Sem dúvida, o filme é uma ode ao empoderamento feminino e como a união pode significar a vitória na luta por direitos. As mulheres não desrespeitam a sua própria fé, e nem aos seus homens. Elas buscam o simples fato de querer existir e ser dona de suas próprias escolhas.

Radicado na França a muitos anos, o diretor trouxe um elenco de maioria francês, mas com ascendência árabe, com Leïla Bekhti, Hafsia Herzi, Biyouna, Saleh Bakri, Sabrina Ouazani e Hiam Abbass. Com uma clara preocupação em contextualizar a narrativa e a torna mais real possível, Radu coloca o elenco falando em árabe, e toda a ambientação é feita, com o figurino e cenários bastante honestos com a realidade. Além disso, ele inclui o musical de forma sensível e delicada. Momentos de conflito entre os personagens são complementados com canções (poucas) entoadas ao estilo cultural que o filme se propõe a mostrar.



Se antes Radu Mihaileanu me encantou com a incrível história do judeu da Etiópia em Um Herói do Nosso Tempo (Va, Vis et Deviens, Israel/França, 2005) e a comedia dramática tão criativa de Trem da Vida (Train de Vie, França/Israel, 1998), sem falar do belíssimo O Concerto (Le Concert, França, 2009) com Melanie Laurent. Recomendo todos!

Abraços!

Download



Um comentário: