Um Homem Entre Gigantes - Concussion (crítica e download)

Imagine um atleta profissional de futebol, um bastante famoso daqui do Brasil. Desde os dez anos ele joga e já tem dez anos de carreira e decide se aposentar. Todos amam o jogador, mas em pouco tempo misteriosamente ele começa a cair facilmente, perde o movimento dos dedos e por então fica paraplégico. Esse jogador morre, e por fim descobrem que o ato de jogar o futebol foi o motivo pelo o qual ele parou de andar. Você amante de futebol, o que pensaria disso se passasse a saber que é uma doença degenerativa que TODOS os jogadores de futebol terão, ou já tiveram? Além disso você também saberia que a CBF tenta esconder isso para que você continue se divertindo e dando dinheiro a eles?

Criar um exemplo no contexto brasileiro não é difícil, embora eu esteja suavizando a situação diante das reais consequências da doença Encefalopatia traumática crônica (ETC), descoberta pelo Dr. Bennet Omalu, e que são narradas em Um Homem entre Gigantes (Concussion, EUA, 2015) de Peter Landesman. O filme é uma adaptação do livro Concussion de Jeanne Marie Laskas, que foi fruto de um artigo de mesmo nome para a revista GQ sobre a luta do Dr. Omalu em expor essa verdade inconveniente. Com testes de alguns jogadores de futebol americano que morreram na média de 45 anos, ele descobriu que as batidas de cabeça tão empolgantes e não tão necessárias no jogo, os levou a uma concussão cerebral, o que a médio prazo os levou à loucura.

Protagonizado por Will Smith (apesar de estar longe de uma semelhança física com o doutor), o ator surpreende com uma atuação caprichada e nitidamente dedicada ao personagem. Smith conduz o filme com carisma, em um sotaque muito bom, refletindo o fato de Omalu ser nigeriano.

Este sem dúvida é um dos fatos que mais interferem na aceitação da verdade que o doutor propõe, americanos nunca foram amáveis com imigrantes (exceto os brancos claro), e um africano com um currículo de colocar inveja a qualquer professor de Harvard chega a ser uma “ofensa” ao bons e patrióticos amantes do futebol americano.

Com um roteiro bastante direto, Peter Landesman não só apresenta o conflito de interesse financeiros, de uma das industrias que mais lucra no país, como também deixa claro o sofrimento e o desespero das vítimas da ignorância. O que o Dr. Omalu busca não é a cura, mas o direito de que a sociedade e principalmente os jogadores saibam as consequências do esporte. Entretanto esse direito do saber vai contra o dinheiro.

Produzido por Ridley Scott (que estranhamente anda produzindo filmes melhores do que os que dirige), Concussion traz ainda Alec Baldwin, Albert Brooks, David Morse e a inglesa Gugu Mbatha-Raw. A fotografia é cinza e fria, em um reflexo ao ambiente de trabalho do Dr. Omalu, o necrotério. É obvio que o filme não levou indicações ao Oscar, mas ganhou uma ao Globo de Ouro pela interpretação competente de Will Smith.

O último seguimento do filme é quase apoteótico e triste, em uma amostra crítica da realidade. Mesmo sabendo da verdade as pessoas são egoístas e não querem abrir mão do divertimento, da emoção, mesmo que isso esteja cada dia levando aqueles fornecedores da alegria a uma morte indigna, injusta e ignorada.

Abraços!

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