Zhang Yimou

Biografia e Filmografia (download) de Zhang Yimou

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Cinco Graças (crítica e download)



Eu fico sempre com uma raiva quando perco meu tempo vendo filmes ruins! Nesses últimos dias resolvi ver dois dos filmes indicados ao Oscar, no caso Joy – O Nome do Sucesso (Joy, EUA, 2015) e Cinco Graças (Mustang, Turquia/França/Alemanha, 2015). Depois de perder duas horas da minha vida assistindo e depois mais um dia com ódio de uma produção tão medíocre do senhor David O. Russell, embarquei para minha segunda escolha, que no caso é o muito bom Cinco Graças.

Diante do avanço das redes terroristas, principalmente a do Estado Islâmico, o ocidente começou a ver com outros olhos o islamismo, e com um preconceito generalizado. Os países do oriente médio e Ásia que possuem o islã como doutrina de fé majoritária não são iguais. É a mesma religião, mas são raças diferentes: existem os árabes, os turcos, os curdos, os persas. Ou seja, culturas que possuem semelhanças, mas não são iguais. Começo assim para poder contextualizar o filme em questão, Cinco Graças que tem uma narrativa localizada na Turquia.

A Turquia é o antigo Império Otomano, que assumiu o Islã desde 1500. São séculos de cultura modificada e que se misturou com a cultura árabe, tornando o que é hoje. É um país extremamente moderno – Istambul é dividida ao meio, metade é asiática e a outra europeia -  assim como o Brasil. Eu já viajei até lá, e muita coisa que eu imaginava que era alimentada pela mídia, foi vencida. Essa ideia surge porque nós ocidentais simplesmente não conseguem entender como a Turquia conseguiu conciliar a tradição e cultura islâmica com a modernidade e a avalanche da ocidentalização. Estamos acostumados a ver um muçulmano ortodoxo como o único parâmetro, e o liberalismo é de difícil assimilação para os ocidentais. O fato básico é, usar um véu ou ter uma barba grande não tem faz um muçulmano.  É uma questão muito abrangente. Uma mulher que não cortou seus cabelos e não usa uma peruca ou turbante, não é menos judia do que a usa.


Entendendo assim, podemos falar de Cinco Graças, filme produzido pela França, Alemanha e Turquia, da diretora turca com nacionalidade francesa Deniz Gamze Ergüven. Ela constrói uma narrativa com nítidas influencias e citações ao As Virgens Suicidadas (The Virgin Suicides, EUA, 1999) de Sofia Coppola, entretanto sua ênfase é na discordância com a tradição e o ambiente em que as protagonistas estão submetidas. Particularmente (eu Bellyta!) não me agrada o estilo de Sofia Coppola, por diversas razões que não vou explicar aqui, por isso vou me concentrar no filme, com a questão cultural que ele aborda.

Transferindo a narrativa para o interior, Deniz Ergüven indica cinco irmãs órfãs, com idades de 12 a 16 anos que são criadas por sua avó. Elas sempre foram criadas com liberdade, em um meio disfarçadamente liberal. Após um incidente, extremamente banal, elas passaram a ser confinadas em sua casa, em uma busca por parte da família em parar a rebeldia descabida delas.

Embora seja um texto muito bem escrito, o filme peca um pouco na excessiva sequência de ação e reação que acompanha todo o filme.  Elas fogem, colocam grades na janela, pulam o muro, colocam pregos do muro, esse tipo de coisa que poderia ter sido dispensado.


Com a narração in off da caçula das irmãs, Lale – interpretada brilhantemente pela atriz Günes Sensoy, que recentemente viveu a personagem de Beren Saat na versão infantil de Kösem Sultan, do spin-off de The Magnificent Century (Muhtesem Yüzyil) – ela é uma criança madura e forte, e que com indignação percebe cada uma das suas irmãs mais velhas sendo levadas para o casamento. Sonay (Ilayda Akdogan ) e Selma (Tugba Sunguroglu) são as primeiras a ter seu casamento arranjado – em uma cena bastante crítica, ao mostrar com o arranjo é superficial, as noivas são escolhidas a esmo – apesar que a primeira teve sorte, com impetuosidade e altivez conseguiu impor sua vontade. O mesmo não aconteceu com Selma, que se viu em situações constrangedoras, e que para nós ocidentais é retrogrado. E na sequência da linha de casamento Ece (Elit Iscan).

Acho interessante pensar que o que levou a essa prisão e ao resgate dos valores tradicionais não foi o incidente ocorrido, e sim uma desesperada afirmação social e medo da opinião pública. Se o meio do qual são criadas fosse conservador e rígido, não existiria a postura comportamental liberal que as personagens são representadas. Deniz Ergüven dialoga mais é com a imposição social que levou a família em aprisionar as jovens.

No decorrer do filme percebermos ainda que nem tudo é o que parece. Surge a hipocrisia e ironia em expor como maior pecado um problema externo, quando sérios conflitos acontecem dentro do lar. Esses conflitos levam a um clímax terrível, mas que nos indica o poder da repressão em um ser humano.


Apesar de se mostrar uma sociedade extremante patriarcal e machista – a pobre Lale não pode assistir aos jogos de futebol, precisa estar sentada com as mulheres vendo novela – a diretora não permite que todos os homens da narrativa sejam condenáveis. Ela coloca homens bons, e jovens, como o caso do personagem Yasin (Burak Yigit), que é o que salva as meninas no final.

O mais interessante, é que a diretora constrói uma narrativa que não se prende a barreiras geográficas, essa história poderia ser narrada no contexto de uma cidade do interior do Brasil. O fato que levou aos acontecimentos não foi a religião islâmica, mas a tradição conservadora, que por ventura temos no nosso país. Sinceramente, as personagens eram muito mais desenvolvidas sexualmente do que eu na idade delas (cresci em um lar católico, mas bastante livre, e na cidade grande), ou seja, a Turquia não é diferente que o Brasil cristão.

Cinco Graças consegue em seu texto conciliar o humor com o absurdo, perfeitamente. A trilha sonora acompanha todas essas etapas com suavidade, e exatidão. Uma bela fotografia, e uma edição bem dinâmica. O elenco conseguiu uma sintonia e conexão excelente, pois a proximidade entre as irmãs era necessária, e foi sensível. Sua indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro veio por parte da França, e é bem merecida.  


Abraços!

Download




2 comentários: