Zhang Yimou

Biografia e Filmografia (download) de Zhang Yimou

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Brooklyn (crítica e download)



A história dos Estados Unidos sempre foi ligada aos imigrantes que ajudaram a construir o grande país que é hoje. Em Nova York temos a diversidade absurda de culturas por meio das tantas comunidades de imigrantes que foram essenciais na formação da sociedade e da infraestrutura que a cidade possui. Desde a fundação da megalópole, os imigrantes irlandeses foram um dos primeiros a chegarem no local, e trabalharam efetivamente para construir as estradas, prédios e jardins que hoje habitam a paisagem do estado de Nova York. Antes da comunidade negra americana sair do Queens – hoje com grande concentração de latinos – e seguir para o Bronx e Brooklyn, este último era habitado pela comunidade italiana e irlandesa.

O povo irlandês possui uma história muito sofrida, desde a sua fundação e como colônia da Inglaterra. Passou por diversas guerras externas e internas, divisões, fome e perseguições religiosas e culturais muito intensas por parte do país da rainha. As ondas de imigração foram intensas para a América e as contribuições dessas comunidades estrangeiras foram tão importantes, que John Crowley lançou nesse ano no Festival de Toronto o filme Brooklyn (Brooklyn, Irlanda/Reino Unido/Canada, 2015). Ele que está na rota de indicações das premiações americanas, é um filme tão bonito, com uma vertente única.


É raro encontrarmos um drama que consiga ultrapassar a “tragédia” e nos mostrar uma boa estória que tenha uma trajetória positiva. O diretor irlandês John Crowley retomou a história de seu povo no país estrangeiro, criando uma crônica realista e delicada do sentimento de uma pessoa que sai de sua terra.

Brooklyn narra a trajetória de Ellis Lacey (Saoirse Ronan), jovem de uma cidade do interior da Irlanda, que sem perspectivas de um futuro que lhe agrade, se muda para a América, onde encontra mais condições de realizar seus desejos. Ela se apaixona, mas logo tem que retornar a sua terra natal, com o coração dividido entre os dois países. A narrativa é muito bem estruturada, e extremamente simples – o que não transforma o filme raso – Brooklyn é a representação do sentimento tão difícil de ser definido em outras línguas, mas que nós brasileiros traduzimos como saudade. É a trajetória de mais uma imigrante e como sua vida se conecta a esta cidade/país.


A linguagem foi muito bem trabalhada no filme. Eu valorizo muito os filmes simples, que buscam as tradições do cinema sem a preocupação de revolucionar a técnica. Assim como em Carol (Carol, EUA, 2015) - crítica aqui -  deste ano, temos uma linguagem do cinema clássico, bem explorada.

Ellis é corajosa e mesmo com os medos e inseguranças de encarar sozinha uma jornada tão grande, não desiste das oportunidades que lhe foram ofertadas. É interessante como Crowley demonstrou na personagem o decorrer da transformação que a saudade proporciona em um imigrante. Com a personalidade introspectiva e fechada dos irlandeses, a jovem inicialmente é acanhada, tímida, e a dor por estar longe da família é forte. Para isso, na primeira parte do filme temos Saoirse Ronan vestindo o verde em várias cenas, uma forma clara de induzir o espectador a sentir o apego que a jovem tem pela Irlanda. Aos poucos -  principalmente por se apaixonar – ela se abre para outras cores, para o estilo típico americano. É tão sutil a mudança, que até mesmo o sotaque Ronan começou a incorporar. Quando retornamos para a terra natal, em que a jovem se encontra no dilema oposto, ela não desapega do estilo americano, e nenhum verde é colocado à vista. É impressionante como os detalhes de uma obra dizem muito sobre a intensão do filme.


Além disso temos os personagens dos quais ela se envolve. Tony é o personagem de Emory Cohen, mais um componente da herança dos imigrantes. Filho de italianos, ele é simples financeiramente e em educação, mas doce e amável. O diretor não apresenta Ellis em maior estatura que ele à toa, isso é uma nítida analogia ao fato da protagonista ser superior ao personagem, e como isso não definiu em nada as escolhas que ela teria que ter no futuro diante das oportunidades.

A direção de arte trabalhou com uma paleta colorida, saindo muito da tradição de criar uma Nova York escura e poluída, para cheia de cores e vida, refletindo o sentimento pessoal da protagonista. A trilha é suave, e conduz bem as cenas.

Ao falar do elenco, a escolha da protagonista foi genial. Saoirse Ronan – a menina dos sotaques, ela é conhecida por conseguir reproduzir qualquer sotaque dos países da língua inglesa de forma perfeita – possui pais irlandeses, cresceu e mora na Irlanda, mas nasceu em Nova York! Ela se mudou para Irlanda aos três anos de idade. É obvio que foi intencional a escolha da atriz, por possuir ligações tão fortes nesses dois lugares que a narrativa segue. Muito carismática, Saoire torna a Ellis dócil e simpática para o espectador. Torcemos por ela de sentimentos divididos como a personagem, pois sabemos que sorte está com ela. Ronan é uma jovem muito talentosa, e vejo que caminha para sua segunda indicação ao Oscar (embora acho difícil alguém ganhar de Brie Larson em 2016).  


Além disso temos um elenco de apoio muito bom: o fantástico Jim Broadbent, como o Padre Flood que apadrinha Ellis; Julie Walters como a Senhora Kehoe, dona da pensão no Brooklyn e o irlandês Domhnall Gleeson (como o amigo Jim Farell) que eu simplesmente adoro! O ator é sempre versátil em seus papeis e tem um carisma incrível!

John Crowley não quis apenas retornar à história, mas faz uma ode a aquelas pessoas que são os pais e avós dos nova-iorquinos de hoje. A cena belíssima do jantar de natal da igreja, é uma metáfora não só do descaso a quem deu o sangue pelo país estrangeiro, mas a dor de quem vive longe de sua terra. O diretor quer dar luz e voz a esse povo que passou despercebido. 

Abraços!

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2 comentários:

  1. Parabéns pelo trabalho! E muito obrigada! As dicas e análises críticas são sempre valiosas!

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