No universo do cinema, Hollywood é o núcleo de forma que o mantém
vivo e completo, é fato. Por possuir esse poder, é raro vermos um filme de
Hollywood mostrando os podres da história de Hollywood. Quando isso ocorre é
obvio que o passado já não faz nenhuma diferença e não interfere em nada no seu
poder, mas não deixa de ser menos interessante recordar.
Dalton Trumbo (1905-1976) foi um escritor e roteirista americano,
que trabalhou na época do cinema clássico. Era bastante querido pela comunidade
artística, e pelos cineastas. Possuía uma carreira consolidada, mas era assumidamente
comunista. Com a Guerra Fria, uma investida por parte do governo tratou investigar
uma possível “infiltração” de espiões comunistas na indústria cinematográfica. O
chamado Hollywood Tem, foi um grupo
de 10 profissionais do cinema que foram intimados e que teriam se negado a
testemunhas no tribunal do Comitê de
Investigação de Atividades Antiamericanas do Senado dos Estados Unidos. O
fato foi que algumas dessas pessoas foram presas, dentre elas Trumbo, e passaram
a compor uma lista negra, de pessoas banidas do cinema.
Desde o início, o cinema nunca
deu o devido credito e importância para os roteiristas, embora sejamos sinceros
é o que cria a base necessária para que um diretor consiga produzir. Não
importa a perfeição técnica que uma obra possa ter, se não houver um texto que
sustente tudo, ninguém aguenta. Isso é importante ser lembrado, principalmente
pelo contexto que o filme de Jay Roach
se concentra em Trumbo: Lista Negra
(Trumbo, EUA, 2015).
Com elenco de peso, com Bryan Cranston interprendo com tanto
carisma o protagonista, Diane Lane
como a esposa do roteirista Cleo e Helen Mirren que vive a comentarista de
cinema e atriz fracassada Hedda Hooper.
Esta última foi muito conhecida na época, popular no meio artístico e cabeça do
movimento dentro da indústria de “recuperação dos valores morais americanos”. No
filme o diretor optou por coloca-la como a vilão principal, o que Mirren
conseguiu com maestria ao apresentar uma pessoa que beira ao insuportável.
Preferindo ir no caminho contrário
ao drama puro que a história poderia proporcionar, o roteiro de John McNamara conduz o filme em um
formado de quase comédia, refletindo comportamento humorado que Trumbo possuía,
o que era possível perceber em seus textos. Sem medo de mostrar os culpados e a
hipocrisia da sociedade na época, o diretor expõe o ridículo do medo que o
comunismo passou a ocupar na mentalidade popular.
Essa época de “caças as bruxas”
chegou a todos os países da América, sendo o resultado direto aqui no Brasil a
ditadura. Minha mãe dizia que na sua infância os adultos falavam que “comunistas
comiam criancinhas”, utilizando essas frases absurdas para ameaçar a criança
por alguma travessura.
O fato foi que Trumbo era
confiante não só no seu talento como roteirista, mas fiel as suas convicções. Foi
banido do meio artístico após sua intimação e prisão, e passou quase vinte anos
trabalhando clandestinamente, com nomes falsos ou amigos assinando por ele. Jay
Roach leva o conflito gerado por seu idealismo para dentro da família, e não
deixa de mostra como tudo interferiu na relação do mesmo com sua esposa Cleo e
seus filhos.
Trumbo se preocupa com uma
direção de arte eficaz e bonita, além de uma trilha sonoro bem editada no contexto.
E vale pensar nos efeitos especiais que foram bem feitos, com o dinamismo entre
os vídeos reais dos inquéritos e a introdução dos personagens nas cenas, sem medo
do preto e branco. O diretor queria introduzir realmente o espectador na época
e no momento.
Ironicamente, om algumas
indicações ao Oscar, Trumbo consegue ser atual, ao mostra como Hollywood nunca
aceitou o diferente e a possibilidade da diversidade.
Abraços!
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