Em mais uma vez na mania incurável de um cinéfilo de passar
mais tempo pesquisando e escolhendo qual filme ver, do que vendo um filme em si,
fui rever o interessante e gostoso Procurando Elly (Darbareye Elly, Irã, 2009), vencedor do Urso de Prata em Berlim 2009.
Asghar Farhadi gosta muito de discutir as relações
familiares que existem em seu país teocrático. O Irã é um local realmente
interessante, em que a sociedade sobrevive entre o equilíbrio da invasão cultural ocidental e da própria cultura predominante islâmica. É fato que
dentre as republicas islâmicas, o Irã é um dos mais “libertários” para os
direitos das mulheres, mas existe ainda um longo caminho que o povo iraniano
tem que percorrer para chegarem a pátria ideal que almejam.
Procurando Elly é um bom exemplo de um material proveniente
da classe moderna do país. Digo, o diretor sempre preferiu contar histórias
cotidianas de pessoas comuns, embora instruídas culturalmente e
financeiramente. Entretanto, são retratos realísticos das relações familiares
que existem no Irã da atualidade.
No caso temos o enredo focado em um final de semana na
praia, em que os amigos (três casais ) comemoram a volta do amigo Ahmad (Shahab
Hosseini) da Alemanha. E visto que ele está solteiro, uma das amigas, Sepideh
(Golshifteh Farahani) convida a professora de sua filha, Elly (Taraneh Alidoosti) para ir com
eles, com o intuito de torna-los um casal.
É muito bacana como que sentimos desde o inicio que algo
está errado. Embora as cenas que iniciam o filme se tratam da alegria dos
amigos, do divertimento, e do bom entrosamento deles, existe um incomodo para o
espectador que não se permite estar feliz com essas pessoas. E Asghar Farhadi passa
esse sentimento ao mostrar os planos para o final de semana não saírem nada da
maneira prevista: a casa que alugaram não estava disponível, a praia é estranha
e feia, a casa é suja e sombria. Existe desde o inicio uma ironia entre o
ambiente e o sentimento inicial dos personagens.
Tudo caminha bem, até que por fim o clímax do filme chega e
deparamos com o desaparecimento misterioso de Elly. E por fim as relações e
emoções dos personagens estão adequadas agora com o ambiente em que estão
inseridos. Segredos e segredos são descobertos
e percebemos como o diretor quer passar a ideia da moral hipócrita e injusta da
sociedade.
Sepideh se sente péssima e culpada pelo desaparecimento da
amiga Elly, e por ser portadora de tantos segredos da amiga, é criticada a todo
o momento pelos outros amigos, e principalmente por seu marido. A ironia maior
que Asghar Farhadi quer mostrar é como que os padrões e normas de conduta da
sociedade se sobressaem aos atos bondosos das pessoas. Elly era uma heroína,
mas nada disso importou ou nem foi realmente lembrado diante do segredo que
precisou ser revelado diante da confusão.
É a sociedade de aparências e machista que não é só no Irã que existe,
em todo o mundo.
Em questões de minutos ela passa da simpática e heroína,
para a estranha e desonrada. São os adjetivos que Asghar Farhadi simplesmente
retira da personagem por um motivo vulgar, até mesmo para o Irã.
Procurando Elly é incomodo no ambiente, na trilha sonora
inexistente e na câmera nervosa do diretor. Ingredientes muito bem empregados
na sensação de tensão que é necessária para o enredo. Utilizando um elenco familiar em seus filmes,
Marila Zare’i (A Separação, 2011), Shahab Hosseini (A Separação, 2011), o ótimo
Peyman Moaadi (A Separação, 2011) e a minha querida e belíssima, sempre intensa
e competente Golshifteh Farahani que encara toda a pressão da personagem chave
Sepideh.
O filme é uma película necessária para conhecer esse país
tão intrigante e que tem tanto a proporcionar em termos da sétima arte que é o
Irã.
Torrent + Legenda
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