O curioso filme Minha Doce Terra Amarga (My Sweet Pepper Land, França/Alemanha/Irã, 2013) dirigido por Hiner
Saleem, trata-se de um faroeste bem construído. Ao contrario do oeste americano,
temos o interior do Curdistão, terra natal do diretor, região localizada no
Iraque próximo a divisa da Turquia e Irã. É preciso dizer que de acordo com o
IMDb, o filme foi gravado exatamente neste local, e por isso o ambiente é tão realístico.
Sendo a linguagem principal o curdo, o filme narra à
história de Baran (Korkmaz Arslan). Um policial honesto e justo, que disposto a
trabalhar em algo útil, aceita o encargo de comandante da policia de um
vilarejo no interior do Curdistão Iraquiano. Melhor dizendo: fim do mundo! Lá ele conhece a
professora da vila, Govend (Golshifteh Farahani) e os dois passam a ter problemas em combater a
lei regida pelo corrupto local Azaz Aga (Tarik Akreyî).
Todos os elementos no filme sugerem ao faroeste. O vilarejo
tão distante só é possível chegar a cavalo ou a pé. A construção do “hotel/restaurante/mercearia”
é a representação das tavernas dos antigos filmes. Ali os homens se encontram,
ali o forasteiro chega e se apresenta para o povo, como ocorreu com Baran. Com
o cigarro e olhar ameaçador, o policial tentar impor sua autoridade em uma
terra sem lei.
Além disso, temos a presença da professora. Baran é um homem
da capital, mais aberto para a modernidade e entende a necessidade de ter
estudos para as crianças do vilarejo. Entretanto, como também ocorrem em muitos
lugares desse enorme Brasil, o povo fica a mercê de ricos que se colocam acima
da lei, e fazem o que quiser com essas pobres pessoas.
Baran passa a proteger Govend, não só pelo seu interesse romântico,
mas também por ela ser uma mulher solteira trabalhando, o que não é bem visto
naquela sociedade. A professora por sua vez enfrenta todos os obstáculos para
conseguir seguir sua vocação de magistério, e acha em Baran um parceiro de
luta.
Minha Doce Terra Amarga é um filme que mescla momentos de
tensão e de comedia. Isso se dá por seu roteiro que apresenta as situações como
elas são, e algumas de tão absurdas chegam ao cômico. Retrata uma nova visão
dessa região, fugindo das atrocidades com que Saddam Hussein instaurava no
Curdistão, e mostrando a corrupção e poder de uma terra sem lei, como também mostra
a resistência com força feminina - representada pela milícia do Curdistão
turco. Aqui a presença da mulher é forte e essencial para o enredo.
Como eu havia digo, o cenário é de fim de mundo: uma vila no
meio das montanhas, bastante pobre e indefesa. Apesar disso, temos paisagens
lindas, e uma fotografia carregada de tons cinzas – principalmente por ser
inverno. Muitas referências são
encontradas aqui com o clássico de John Ford, Paixão dos Fortes (My Darling Clementine, EUA, 1946). Como
os enquadramentos dos homens de costas com o céu, marca registrada do cineasta
americano. O mesmo justo e honesto e a professora que necessita de amparo.
A trilha sonora tão diversa – com direito a Elvis - é um
capricho criativo do filme, e diferente do que se encontra em produções de caráter
do médio oriento. Além da música tema tocada no instrumento hang por Golshifteh Farahani, apresenta em seus momentos
de angustia e felicidade.
Este faroeste foi selecionado para a mostra Un Certain Regard em Cannes 2013, é muito além de uma história de vingança, é
uma narração harmoniosa de justiça em um ambiente carregado de guerra.
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Os links de 'Minha doce terra amarga' não estão ativos. Parabéns pelo site e pelas críticas.
ResponderExcluirDesculpe a demora Beto, mas o link já está atualizado ok? Abraços!
ExcluirO link desse caiu tb.
ResponderExcluirabrs
bg
Olá Marco, o link já está atualizado ok?
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