Os chamados “road
movies” são filmes que possuem como tema uma historia sobre alguma
personagem ou grupo de pessoas que saem em viagens incríveis, e que muitas vezes são biográficas.
Esse tipo de cinematografia é em sua
maioria, com momentos inspiradores de histórias verídicas de superação. Eu como
uma wanderlust incorrigível, me sinto
atraída por esses filmes, e com um desejo enorme de conseguir ter a coragem que
essas pessoas têm.
O filme em questão
deste comentário é Tracks (Tracks, Austrália,
2013), de John Curran. O diretor americano de O Despertar de Uma Paixão (The Painted Veil, China/EUA/Canada,
2006), adapta o livro best-seller Trilhas
(título no Brasil) da australiana Robyn Davidson, em que ela narra sua viagem
feita na década de setenta pelo deserto na Austrália, em uma jornada de 2.800 quilômetros
de distância! Além de estar sozinha, Robyn percorreu todo o caminho com quatro
camelos e seu cachorro Diggy.
Comentando brevemente sobre a temática do filme, é
interessante pensar como que neste caso não houve grandes mistérios e problemas
pessoais de Robyn. O filme não aborda as reflexões que ela pode ter tido
durante a jornada, e isso não torna Tracks um seguimento “vazio”. Na maioria
dos road movies, existe personagens traumáticos
e que buscam na jornada alguma forma de libertação e muitas vezes esses
problemas se sobressaem a viagem em si. Embora Davidson tivesse seus momentos difíceis
na vida, o seu principal motivo para atravessar o deserto era “provar que uma
pessoa sozinha” poderia fazer tal ato. Dessa forma, de uma maneira muito
interessante o filme se fixa inteiramente na viagem, e muito ligeiramente no íntimo
de Robyn. Os poucos momentos em que suas recordações e sentimentos dos traumas
humanos são retratados, senti que era mais uma adaptação por parte do diretor,
e não inteiramente do que realmente está no livro (claro, uma suposição minha).
A personagem foi interpretada intensamente por Mia
Wasikowska. Estando na sua terra natal, a atriz encarnou uma personalidade
séria, dura e realista. Podemos pensar que Robyn chega a ser antissocial, mas
isto não tira a simpatia por ela. Era uma viagem só sua, e que ela queria
enfrentar estes desafios sozinha. Esse comportamento taciturno entrava em
conflito cômico e animador quando a personagem era colocada em enfrentamento
com o alegre e prestativo repórter Rick Smolan, vivido por Adam Driver. Conseguindo um financiamento da viagem por
parte da National Geographic, Robyn Davidson se viu obrigada a estar em alguns
momentos na companhia do fotografo da revista. O carinho e a devoção dela com
os animais que seguiam a jornada com ela, não eram nem perto a mesma que possuía
com as pessoas. A discrepância da personalidade entre os personagens cria uma
harmonia no ambiente inóspito que eles atuam.
Tracks possui aproximadamente duas horas de duração, e em
sua maioria sem diálogos, ou narração da personagem. E em nenhum momento se
torna monótono ou entediante. O cenário do deserto australiano e a fotografia
tão vibrante transpassa a sensação de calor interminável que Robyn enfrentou. É
possível conhecer essa terra tão distante, com seus povos nativos os Aborígenes
O som da natureza é intenso durante todo o filme, e a trilha sonora tão bem
feita por Garth Stevenson, cria o ambiente ideal para que a superação de Robyn.
Antes de iniciar o filme me deparei com o aviso: "Warning - Aboriginal and Torres Strait
Islander viewers should exercise caution when watching this program as it may
contain images of deceased persons." Intrigada com o fato, busquei
saber o porquê desse aviso, e achei a explicação. Aborígenes e nativos de
Torres Strait Islander acreditam que ao capturar sua imagem e voz em um filme você
está capturando parte da sua alma, e se eles morrerem a pessoa na tela está no
limbo e este pensamento pode ser angustiante para esses povos. E vi que todo
filme australiano que possa ter momentos como esse deve ter este aviso antes de
iniciar o filme, como forma de alerta para essas pessoas. Incrível! Que
respeito maravilhoso a tradição e cultura de um povo! Lembro-me de uma colega
de viagem australiana dizer que nas escolas além do inglês, se ensinam a língua
aborígene. Encantada com esse sinal de respeito e comprometimento com a crença
destes povos indígenas.
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