Zhang Yimou

Biografia e Filmografia (download) de Zhang Yimou

domingo, 12 de julho de 2015

Tracks (crítica e download)


Os chamados “road movies” são filmes que possuem como tema uma historia sobre alguma personagem ou grupo de pessoas que saem em viagens incríveis, e que muitas vezes são biográficas. Esse tipo de cinematografia é em sua maioria, com momentos inspiradores de histórias verídicas de superação. Eu como uma wanderlust incorrigível, me sinto atraída por esses filmes, e com um desejo enorme de conseguir ter a coragem que essas pessoas têm.

O filme em questão deste comentário é Tracks (Tracks, Austrália, 2013), de John Curran. O diretor americano de O Despertar de Uma Paixão (The Painted Veil, China/EUA/Canada, 2006), adapta o livro best-seller Trilhas (título no Brasil) da australiana Robyn Davidson, em que ela narra sua viagem feita na década de setenta pelo deserto na Austrália, em uma jornada de 2.800 quilômetros de distância! Além de estar sozinha, Robyn percorreu todo o caminho com quatro camelos e seu cachorro Diggy.


Comentando brevemente sobre a temática do filme, é interessante pensar como que neste caso não houve grandes mistérios e problemas pessoais de Robyn. O filme não aborda as reflexões que ela pode ter tido durante a jornada, e isso não torna Tracks um seguimento “vazio”. Na maioria dos road movies, existe personagens traumáticos e que buscam na jornada alguma forma de libertação e muitas vezes esses problemas se sobressaem a viagem em si. Embora Davidson tivesse seus momentos difíceis na vida, o seu principal motivo para atravessar o deserto era “provar que uma pessoa sozinha” poderia fazer tal ato. Dessa forma, de uma maneira muito interessante o filme se fixa inteiramente na viagem, e muito ligeiramente no íntimo de Robyn. Os poucos momentos em que suas recordações e sentimentos dos traumas humanos são retratados, senti que era mais uma adaptação por parte do diretor, e não inteiramente do que realmente está no livro (claro, uma suposição minha).

A personagem foi interpretada intensamente por Mia Wasikowska. Estando na sua terra natal, a atriz encarnou uma personalidade séria, dura e realista. Podemos pensar que Robyn chega a ser antissocial, mas isto não tira a simpatia por ela. Era uma viagem só sua, e que ela queria enfrentar estes desafios sozinha. Esse comportamento taciturno entrava em conflito cômico e animador quando a personagem era colocada em enfrentamento com o alegre e prestativo repórter Rick Smolan, vivido por Adam Driver.  Conseguindo um financiamento da viagem por parte da National Geographic, Robyn Davidson se viu obrigada a estar em alguns momentos na companhia do fotografo da revista. O carinho e a devoção dela com os animais que seguiam a jornada com ela, não eram nem perto a mesma que possuía com as pessoas. A discrepância da personalidade entre os personagens cria uma harmonia no ambiente inóspito que eles atuam.


Tracks possui aproximadamente duas horas de duração, e em sua maioria sem diálogos, ou narração da personagem. E em nenhum momento se torna monótono ou entediante. O cenário do deserto australiano e a fotografia tão vibrante transpassa a sensação de calor interminável que Robyn enfrentou. É possível conhecer essa terra tão distante, com seus povos nativos os Aborígenes O som da natureza é intenso durante todo o filme, e a trilha sonora tão bem feita por Garth Stevenson, cria o ambiente ideal para que a superação de Robyn.


Antes de iniciar o filme me deparei com o aviso: "Warning - Aboriginal and Torres Strait Islander viewers should exercise caution when watching this program as it may contain images of deceased persons." Intrigada com o fato, busquei saber o porquê desse aviso, e achei a explicação. Aborígenes e nativos de Torres Strait Islander acreditam que ao capturar sua imagem e voz em um filme você está capturando parte da sua alma, e se eles morrerem a pessoa na tela está no limbo e este pensamento pode ser angustiante para esses povos. E vi que todo filme australiano que possa ter momentos como esse deve ter este aviso antes de iniciar o filme, como forma de alerta para essas pessoas. Incrível! Que respeito maravilhoso a tradição e cultura de um povo! Lembro-me de uma colega de viagem australiana dizer que nas escolas além do inglês, se ensinam a língua aborígene. Encantada com esse sinal de respeito e comprometimento com a crença destes povos indígenas.


Estreando no Festival de Veneza de 2013, o filme não é apenas uma historia de superação, é uma narração de pessoa em sua viagem interna, enfrentando os medos do seu íntimo que vão muito além de problemas externos. Ao atravessar o deserto ela encontrou na natureza a sua alma e espirito.



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