Há alguns anos atrás me lembro de
ter ouvido falar de um cineasta iraniano que estava em greve de fome, e com prisão
domiciliar. Lembro que uma ligeira repercussão internacional estava surgindo
sobre isso, mas não me lembro como se resolveu o fato, pois não vi mais notícias
sobre. Me surpreendia quando descobri ontem que este cineasta era Jafar Panahi.
Descobri após assistir a mais um
grande filme seu, Taxi Teerã (Taxi, Irã, 2015), que como sempre, está
há tempos na minha pasta de filmes “a serem vistos”. Bastante ingenuidade da minha parte achar que
isso não aconteceria com o diretor, visto seus filmes anteriores como O Círculo (Dayereh, Irã, 2000) e Fora
do Jogo (Offside, Irã, 2006).
Ambos os filmes tratam dos direitos das mulheres, onde o primeiro é sobre a
falta de perspectiva que o mundo sexista oferece a ex presidiarias, e o segundo
é a luta de jovens para conseguir entrar em um estádio de futebol. O Círculo é um filme forte e deprimente,
onde as normas de cinema impostas pelo governo iraniano de “não desvirtuar a
realidade” é realmente seguida.
Os mesmos questionamentos políticos
estão em Taxi Teerã, isso porque
Panahi não é apenas um diretor, ele é maior que isso, é um ativista, militante.
Após sua prisão, é visível que não existe mais espaço para qualquer outro tipo
de temática a não ser a da resistência, o que ele deixa bem claro no seu mais
recente filme.
Inicialmente planejado em documentário,
onde o diretor se colocaria como motorista de taxi por um dia e sairia recolhendo
passageiros pelas ruas da moderna Teerã, e com uma câmera um pequeno retrato da
sociedade iraniana iria ser feito. Entretanto, diante do perigo de expor as
opiniões dos seus conterrâneos, ele preferiu transformar em um exercício metalinguístico, de reflexão de sua própria trajetória cinematográfica . Atores
amadores se transformam em seus passageiros, e as poucos Panahi coloca as superstições,
os medos e o “jeitinho iraniano” de viver em uma ditadura teocrática.
Sem muitos artifícios, a câmera faz
o enquadramento do motorista e o passageiro, utilizando a iluminação natural e
com raros intervalos com trilha sonora imposta. As conversas são sinceras, os
debates são cômicos e dinâmicos. Sem vergonha de se expor, Panahi coloca suas
memorias sobre a prisão e discute com sua sobrinha sobre as imposições
(absurdas!) da censura cinematográfica. Por esse mesmo motivo, não há créditos finais,
apenas um texto informando que pela segurança das pessoas expostas, seus nomes não
seriam creditados.
Entretanto, a última passageira é
conhecida, Nasrin Sotoudeh entra em
cena para fechar o filme com chave de ouro. Advogada proibida por dez anos de
trabalhar, além de seus vinte anos impossibilitada de sair do país e seus já
completados sete anos de prisão, ela é hoje uma ativista forte dos direitos
humanos do Irã. Com Panahi constrói um diálogo riquíssimo e emocionante. O grande
sorriso em meio a suas duras palavras é bem-vindo, e revigorantes assim como a
linda flor que ela dá ao espectador, em um desejo sincero de liberdade.
É engraçado que sempre colocam o
cinema iraniano como o “cult”. Mas não é essa a vontade dos profissionais de
lá, e sim expor a sua sociedade que caminha cada vez mais para uma ruptura com
a situação atual. Cinema no Irã é resistência, é arte transformada em luta.
Abraços!
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Disponível no Telecine Play.
Colega....adorei descobrir esse blog...vc por acaso conhece Virgina....um filme iuguslavo de mais ou menos 1990?
ResponderExcluirWeder . vitoria es
wgrassi@hotmail.com
Olá Weder! Não conheço, na verdade tenho poucas referencias do leste europeu. Conheço pouco de Béla Tarr, mas só! É um bom filme?
ExcluirColega....adorei descobrir esse blog...vc por acaso conhece Virgina....um filme iuguslavo de mais ou menos 1990?
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