Estou um tempo afastada do blog,
confesso. O motivo? Não sei. Mas acho que preciso entender que sempre que
dedico uma hora do meu dia para escrever sobre filmes e séries que me encantam,
é dedicar um tempo em mim.
Não que eu tenha muitas tarefas a
fazer, mas é impressionante como sobra tempo para milhares de coisas, exceto
para algo que você precisa como forma de crescimento pessoal. Cair no limbo da
comodidade é um perigo que enfrento diariamente.
Acho que essa minha introdução a
minha própria realidade pessoal se junta bastante com a série que vim aqui
recomendar hoje: Good Girls. Talvez
com a personagem Beth.
Lançada no inicio do ano pela
NBC, Good Girls tem sido interpretada como “Breaking
Bad feminino”, o que acho extremamente idiota de se dizer por vários motivos:
1º: é uma necessidade machista que se
tem de tentar justificar que a série pode ser tão foda como um clássico. Uma
justificativa para os homens que gostarem de uma série que envolve mulheres em
problemas de mulheres na vida de mulheres. É idiota comparar qualquer coisa com
Breaking Bad, uma série que revolucionou a televisão e a produção de séries
totalmente. 2º: não tem nada de drogas nessa série, ou seja, não é o assunto
principal. 3º: e SÃO 3 MULHERES.
Eu sei que o pôster da série por
si só tenta fazer uma referência a Breaking Bad (as três sentadas em uma
cadeira de plástico idêntica a do pôster de Bad), mas isso é técnica de
marketing, não vou entrar nisso. Eu já falei aqui antes como detesto
comparações, se o projeto não for um remake publicamente aceito, acho uma
sacanagem com a criação de alguém.
Enfim, vamos ao que interessa. Quando
falamos que é uma série de problemas de mulheres, falamos da realidade da
mulher. Temos três mulheres com três perspectivas da vida completamente
diferentes entre si, com realidades totalmente distintas. Beth Boland (Christina Hendricks, parceira
recorrente nos filmes de Nicolas Winding
Refn) é uma típica, mas bota típica esposa americana. Ruby Hill (Retta) é uma mulher negra, garçonete
que tem uma filha com problemas renais. Anne Marks (Mae Whitman) uma mulher de menos de trinta anos, com uma filha
trans de 11 anos.
Anne e Beth são irmãs, mas não
sabemos nada a respeito da construção de sua família, criação e como seguiu a
amizade tão firme com Ruby. Mas isso não interfere na interação que as três têm,
e como conseguem se organizar em função da necessidade de cada uma.
O enredo é sobre a necessidade de
ter dinheiro, visto as circunstâncias que elas se encontram. Entretanto, é mais
nítido que o dinheiro é só um meio para elas perceberem que a real necessidade
é a de sair do limite que suas vidas estão construídas. Nisso a série é
coerente em refletir que os papeis de mãe e esposa não são definidores de uma
mulher. Que uma mulher pode e quer ter mais que isso para si. Por isso é quase impossível
ter qualquer tipo de julgamento a respeito dos crimes que elas fazem, muito
pelo contrário, o enredo te seduz o suficiente para torcer por elas.
Mas acredito que um dos trunfos
da série está na construção dos personagens masculinos. Rio (Manny Montana) é um chefe do crime. Um
homem que intimida completamente por sua postura e seu modo de falar.
Intimidação mais por seu histórico de crimes, e da arma em sua mão. Medo que
transmite a qualquer homem ou mulher.
Entretanto, não temos Rio como algo digno de se odiar na série, muito
pelo contrario. Ele seduz o espectador com destreza, ajudando a criar a aura de
encantamento do mundo do crime. O que não ocorre com Boomer.
Vou reservar um paragrafo para
Boomer (David Hornsby). Acho que
poucas vezes um personagem conseguiu me gerar repulsa, ao ponto de ter ficar
agitada ao assisti-lo em cena. Temos em um mesmo homem todo o espectro de
machismo, sujeira e preconceito que existe. Desprezível, Boomer é a palavra
fracassado em seu mais perfeito sentido. A maneira como ele trata e conduz seus
relacionamentos com as mulheres é assustadoramente real e atual.
Good Girls é uma série de comédia,
mas que consegue transmitir uma dose de dramaticidade na dosagem certa. Existem
diálogos excelentes (Ruby atendendo os adolescentes), cenas que valem reprises
de tão cômicas (as três com Big Michel). O roteiro é simples, os cenários são
bem produzidos.
O fato de escolherem Detroit como cenário para
a série não é atoa, temos uma cidade falida e fracassada, que tenta ressurgir
das cinzas de um passado glorioso. Uma cidade ideal para retratar a vida dessas
três mulheres que tentam se reerguer, pois sabem que são os alicerces de suas famílias.
Disponível na Netflix
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