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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Inside Llewin Davis - Balada de Um Homem Comum (crítica e download)

Inside Llewin Davis - Balada de Um Homem Comum
Direção: Joel e Ethan Coen


Demorei mais de um ano após seu lançamento, para ver o tão interessante Inside Llewin Davis – Balada de Um Homem Comum (Inside Llewin Davis, EUA, 2014), dos Irmãos Coen. Além do fato que isso contribuiu para que eu me preparasse um pouco, assistindo aos outros filmes dos diretores que não tinha visto ainda. Fiquei surpresa ao reconhecer como que eu gostava desses dois.

Talvez o mais intrigante da linguagem de Joel e Ethan é que existe uma característica tão forte e atrativa que de maneira inexplicável, ainda não consegui descrever. Mas o que posso dizer é que seus roteiros tão bem relacionados e com diálogos tão simples conseguem criar uma personalidade inteira e complexa para seus personagens. Sem falar com certeza de que eles são uns dos poucos que conseguem ter uma filmografia de alta qualidade em meio ao sistema de Hollywood.  Com isso, podem dispor de elencos estrelares até, como ocorreu em Queime Depois de Ler (Burn After Reading, EUA, 2008), que tinha Brad Pitt, George Clooney, Tilda Swinton e John Malkovich. Pense bem,  acho que seria barato!



Retornando a Inside Llewin Davis, posso dizer que o nome adaptado no Brasil faz realmente justiça ao filme. Balada de Um Homem Comum chega ate ser eufemismo, visto que o protagonista nada mais é que um fracasso como pessoa, como profissional e social. Levando o enredo para a Nova York dos anos 60, os irmãos Coen tratam de contar a estória de um jovem que busca seu reconhecimento na música folk. Mesmo sendo uma abordagem fictícia, o roteiro utilizou poucas bases biográficas de Dave Von Ronk, um desconhecido sobrevivente do sonho do sucesso dessa época.

Partindo daí, o filme se encarrega de nos conectar com Llewin (Oscar Isaac) em seu fracasso diário. Como se nada desse certo para ele, até mesmo seu nome é complicado e difícil de ser pronunciado, mais um dos empecilhos para um eventual sucesso.  Ele não se compromete com sua vida pessoal, sempre se desvencilhando de qualquer tipo de afeto ou inteiração social, muitas vezes abdicando de seu orgulho e arrogância para pedir ajuda, mas nada mais ele quer dessas pessoas. No filme, seu único traço de carinho e preocupação para com algo além dele é com o gato que ele acidentalmente acha. E apesar de tudo isso, é simplesmente impossível não se simpatizar e sorrir com esse protagonista desconhecido.



Interessante que muito me veio outro desconhecido que também lutou por seu espaço no cenário folk, que foi Nick Drake. Embora os ambientes fossem diferentes (Drake em Londres, Llewin em Nova York, berço dos grandes Bob Dylan e Joan Baez), ambos sofreram pelo anonimato e pela impotência diante da falta de estrutura psicológica e emocional para superar esse estreito caminho do sucesso. É disso que os Coen se preocupam em mostrar, como milhares atravessam o mar, mas como poucos chegam à terra firme. Isso é tão claro, que a manobra de linguagem dos Coen é colocar Llewin em corredores tão estreitos e claustrofóbicos.  Mas essa é também a questão, são poucos, muitos poucos que conseguem, e só os vitoriosos merecem ser lembrados? Por que não mostrar um retrato dos que ainda não conseguiram, e os que precisam superar e continuar a viver o inevitável destino do “subexistir”?

Ocupando o posto de “segundo lugar” em Cannes 2014, levando o Grande Prêmio do Júri, o filme é de uma simplicidade estética e técnica belíssima. A trilha sonora que é parte principal da linguagem empregada se mistura com músicas tradicionais e famosas como “500 miles”, “The Death of Queen Jane” e  “Farewell” de Bob Dylan, outras que ainda não conhecia, mas que me agradaram muitíssimo, entoadas muito bem por Oscar Isaac, Carey Mulligan e Justin Timberlake.



Além disso, é preciso que o mundo de Llewin fosse tão sem graça e frio como o próprio personagem se apresentava.  Não só preferindo passar a estória no inverno de Nova York, a fotografia é azulada e acinzentada. Tudo é muito frio no filme, até mesmo os personagens coadjuvantes que de maneira simples nos mostram cada características da personalidade de Llewin. Não sabemos nada sobre eles, mas sabemos tudo sobre Llewin, e sabemos que ele não vai a lugar nenhum.

“Filmes sobre sucessos já foram feitos” é a resposta tão digna de Joel Coen e que dá o sentido tão especial e de conexão que precisamos para “estar dentro” do real, Llewin Davis.



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