Durante os dias 10, 11 e 12 de novembro
no Angelika Film Center em Nova
Iorque, podemos acompanhar em tempo real o ator Shia LaBeouf assistindo interruptamente todos os filmes de sua
carreira. Bizarro? Talvez sim, mas é inegável o poder dessa experiência para o
ator e as análises que podemos tirar sobre o cinema.
O projeto #ALLMYMOVIES foi
idealizado pelos artistas Nastja Säde
Rönkkö da Finlândia e o britânico Luke
Turner. Shia já havia se envolvido com um projeto anterior da dupla artística,
#IAMSORRY. Na performance, o ator ficaria um determinado tempo sentado em um
quarto em uma galeria de Los Angeles, com um saco de craft no rosto com a frase
“I am not famous anymore” (Eu não sou
mais famoso). Ele encarava diversas pessoas que por ventura viriam até ele, durante
cinco dias. Logo após a performance, Shia disse que foi estuprado por uma das
visitantes. Diante do lamentável ato, a experiência foi finalizada antes do
tempo. Todos sabemos que Shia não está uma pessoa totalmente estável emocionalmente,
e por isso ele resolveu aparecer no Festival de Berlim com este mesmo saco, o
que gerou diversas críticas ao ator.
Enfim, voltando ao #ALLMYMOVIES, temos
novamente Shia como o protagonista da performance. O ator de 29 anos começou
sua carreira na infância, trabalhando inclusive em séries da Disney Chanel.
Durante o projeto, ele assistiu a todos os seus filmes em ordem cronologia
inversa, ou seja, dos mais recentes até os mais antigos.
É inegável como essa experiência é
interessante. Ao colocar uma câmera de enquadramento fixo no rosto do ator em
tempo real, estamos dentro das emoções e sentimentos que involuntariamente se
manifestam do ator. Shia nem mesmo sabia onde estava essa câmera, não havia
motivos e nem chances de disfarces e máscaras enquanto ele encarava um dos
piores pesadelos de qualquer artista: o de se assistir. Ao vermos entrevistas
de diversos atores e atrizes sabemos como é difícil ver um filme do qual este
atua. O perfeccionismo e o ego são ativados em escala máxima, e o desconforto é
nítido. Além do fato de assistir lado a lado de estranhos e comuns, as pessoas
que de fato consomem o produto que você produz. E isso notamos na experiência de
Shia.
Com milhares de memes que foram
criados diante disso, podemos ver como as emoções do ator se adaptaram em cada
estágio da sua carreira. É muito mais que apenas assistir aos seus filmes, é um
processo de reflexão do Shia “interno” e o Shia “externo”. A possibilidade do
streaming é de nos mostrar essas duas partes de uma mesma pessoa, a união - quase
que impossível para um famoso – do ser privado e do ser público. Para o próprio
Shia naquele momento, ao estar em um cinema com entrada livre, já não existe
essa distinção entre essas duas partes do seu “eu”, ele passa a ser apenas um
espectador, um comum e que eventualmente se sensibiliza, emociona, entedia ou
estressa com o filme. Porque é exatamente todos esses sentimentos que o cinema
nos transmite, não há como estar imune a qualquer filme, seja ele de arte ou
não. O cinema é uma manifestação
sensitiva que traz experiência únicas.
Durante os três dias ao vivo podíamos
ver a sala lotada, a sala vazia, e claro como isso se manifestava em Shia. Há momentos,
como foram expressados por ele posteriormente, de pura solidão, seu olhar era
vazio, insatisfeito. Em outros ele sorri, o olhar brilha e percebemos o orgulho diante de algum trabalho satisfatório para o ator. Há momentos de muito ânimo com direito a palmas, risadas
em confraternização com os visitantes, sem nunca sabermos exatamente qual filme
Shia está assistindo naquele momento. Talvez quem conheça a filmografia do ator
possa adivinhar diante das manifestações do público e dele. Por exemplo, a
vergonha e desconforto ao assistir Transformers 3: Shia se encolhe na cadeira,
esconde os olhos e por fim dorme diante do constrangimento do filme.
Um dia após a conclusão do
projeto, reunido com os artistas idealizadores da performance, Shia concedeu
uma entrevista relatando como foi estar envolvido nisso. De forma bastante
honesta e sincera, o ator disse como tudo refletiu na auto aceitação como uma
pessoa pública. “Eu estou andando pelas ruas e estou sorrindo, como um
personagem de desenho animado... Eu senti apoio extraordinário (...) as pessoas
não estão recebendo só o lado artístico de você, mas eles estão recebendo o seu
lado humano, observando que, você compartilhou tudo”. Além do amor próprio e da
autoconfiança que ele precisava ter. “Eu apenas sei que posso explicar a
sensação como, eu me sinto mais leve hoje. Eu sinto o amor hoje. ”Um experimento importante para um estudo como pessoa famosa e como o comum que se enconde diariamente.
Você pode ver a transmissão no site NewHive aqui.
Leia a entrevista completa LaBeouf, Rönkkö & Turner aqui.
Nossa.. preciso curtir esse texto. Sério1
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