O cinema latino
americano é um dos melhores do mundo, isso é fato. Nesse cenário da América
Latina podemos destacar a produção cinematográfica da Argentina e México, dois
países que investiram nessa indústria mais tempo que o resto do continente. Nos
últimos dois anos tivemos ainda destaque para as produções da Colômbia, que
andam trazendo filmes realmente bons, de cunho bastante crítico a sociedade e política
do país.
Acho extremamente injusto e ignorante falar que a produção cinematográfica
desses são melhores que do Brasil, sempre acompanhados de frases como “Cinema
Nacional é uma merda”, São expressões carregadas de preconceito patriótico e falta
de conhecimento. O cinema reflete a sua sociedade, o seu povo. Temos filmes fantásticos
produzidos aqui, sobre nossa terra, mas infelizmente o
dito “emburrecimento” da população exige que somente a parcela de filmes medíocres,
inferiores de humor duvidoso, estrelados ou produzidos por pessoas como Ingrid
Guimarães, Bruno Mazzeo e Leandro Hassum tornam as referências do cinema
nacional para a população.
Enfim, o fato é que o cinema dos países da América está em
constante evolução. Aqui no Brasil temos de alguma forma uma proximidade muito
grande com o México, principalmente por causa das tradicionais novelas
mexicanas. Entretanto, diferente do que ocorre aqui, em que nossas novelas são
muito próximas em termos de aparências técnicas e até de artistas com o cinema,
no México é diferente.
O cinema mexicano é completamente distinto da produção
televisiva. São outros artistas, outra forma de atuar, outra forma de produzir,
isso porque a Televisa criou um padrão especifico de se fazer novelas, que se
tornou claro patrimônio nacional. As novelas mexicanas são vendidas
para o mundo inteiro, uma formula que deu certo. E por um lado podemos dizer que as produções de
telenovelas são feitas principalmente para alcançar a maior parte da população
que é pobre e/ou indígena, que mantém ainda a forte tradição cultural que o
México carrega. Todas as novelas refletem isso, buscam representar o povo mexicano “de raiz”, ao contrário do que está acontecendo com o cinema nesse momento. Além de perpetuar a divisão de classe, nas novelas os pobres são muito pobres e os ricos muito ricos, e nunca existe essa mistura entre as "castas". Eles são inimigos, e assim temos o sempre caso de amor proibido entre um pobre e o rico.
Como eu disse, por ser dois sistemas distintos, o cinema está
caminhando pelo lado contrário da tradição enraizada, mas sem negar sua existência.
As produções recentes estão se concentrando em abordar dramas humanos
da "classe média aspiracional”, setor que está crescendo entre a
população com pessoas com renda acima da média, que nas telenovelas simplesmente não existem. Um exemplo é o violento e
perturbador Depois de Lúcia (Después de Lucía, México, 2012) de Michael Franco, que mostra as
perversidades e vaidades dos jovens de classe média mexicanos. O filme motivo desta
crítica no entanto é Elvira, Eu te
Daria Minhas Vida Mas Preciso Dela (Elvira,
te daría mi vida pero la estoy usando, México, 2014) de Manolo Caro, lançado pela Netflix no México no último dia 14..
Com um título enorme, mas bastante condizente com a
narrativa, o filme foi produzido e protagonizado por Cecilia Suárez. Ela encarna Elvira, uma dona de casa de classe
média, mãe de dois filhos que se vê em desespero quando seu marido diz que vai
comprar cigarros e desaparece. Embora seja enquadrado como comédia, o filme
foge constantemente a esse estilo. Isso porque o humor mexicano é bastante ácido
e crítico, levado muito a sério em caracterizar os costumes do povo do país.
Em Elvira... o drama é muito além do simples desaparecimento
do marido, é uma crônica moderna muito direta e que leva a refletir as relações
humanas e como lidamos com as escolhas que fazemos na nossa vida. A personagem
Elvira é um turbilhão de angustia e dúvidas constantes. Manolo Caro conseguiu
nos deixar incomodados com essa pessoa, ao ponto de ficarmos perdidos em meio
as mentiras que ela criou para fugir e esconder a dura realidade.
Mas ao mesmo
tempo sentimos o poder da mulher e sua força em avançar, apesar dos pesares. Ela que antes estava totalmente submetida ao marido percebe que precisa se encontrar também, embora carregando a tristeza como na cena "Eu não sei fazer nada, a única coisa que sou boa é em chorar". Os
momentos cômicos são muito bem inseridos, e duros como sempre no humor
mexicano. Elvira não sabe como absorver o amor que sente pelo marido, e assim tenta se transforma em outra pessoa (nítido no ato de corta o cabelo) em busca de respostas.
O elenco foi muito bem escolhido, com Vanessa Bauche e Luis Gerardo Méndez em atuações ideais, sendo cômicos
na medida certa. Esses dois artistas na verdade são excelentes em papeis cômico,
o que diga o personagem protagonista de Méndez em Club de Cuervos (Netflix). Além disso tenho que comentar sobre a
trilha sonora. Nesse ponto, é nítido a vontade de se comunicar com a tradição
do povo ao trazer musica bem regionais. Sobretudo na canção que vem como tema
do filme, Suavecito de Laura Léon, música digamos que clássica
na população, que aqui veio com a performance da ótima Julieta Venegas.
Elvira, Eu te Daria
Minhas Vida Mas Preciso Dela sem dúvida é um filme de reflexão, de
entender as consequências de nossas ações quando não encaramos o nosso próprio ser.
Download
Disponível no Netflix
Em breve torrents.
Assisti hoje, fiquei apaixonada, filme lindo, forte, cheio de conflitos do ser humano... adorei... adorei.
ResponderExcluirqueria saber o nome da música que toca qdo estão no carro. "Suavemente"...rsrsrs
abraços
É um ótimo filme com certeza. A música se chama "Suavecito" de Laura Léon, que os personagens acompanham no rádio, mas nos créditos finais a música veio com a versão de Julieta Venegas.
ExcluirO filme é maravilhoso e fazendo uma entrelinha, Julieta Venegas sempre regrava músicas e ficam muito boas! Estou gostando muito das suas músicas. "La jaula de oro'' é minha música preferida que ela gravou.
ResponderExcluirFilme massa demais, parabéns pelo texto; muito embora não concorde com a forma em que tudo foi escrito, gostei muito do texto e do blog em geral. Deveriam ler teus textos para aprender a escrever sobre filmes por aí. Beijo!
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