No mês de outubro passado fui até a cidade de Palmas, em
Tocantins assistir aos eventos do primeiro Jogos
Mundiais Indígenas. Evento importante no ponto de vista da integração entre
as etnias nacionais e internacionais, e também na tarefa árdua de diálogo entre
o homem branco e o índio. Sobre isso eu identifiquei os dois filmes que mais
gostei sobre indígenas, e são Xingu
(Xingu, Brasil/Canada, 2012) e Segredos da Tribo (Secrets of the Tribe, Brasil/Reino Unido/França, 2010).
É importante pensar como que no cinema brasileiro se existe
tão poucos filmes que abordam historias indígenas em um país com a maior
diversidade étnica do mundo. Não foi aleatório a escolha do primeiro evento
mundial aqui. Essa falta de demanda em assunto tão pertinente para a história
da cultura do Brasil é refletida principalmente pela ignorância e desprezo da população
(vale frisar isso ocorre principalmente no Sul e Sudeste) na cultura dos povos indígenas,
que como sabemos foram os PRIMEIROS habitantes dessa terra.
Para uma sociedade que não consegue aceitar e respeitar seu próprio
passado cultural, se torna financeiramente inviável que um filme seja feito
sobre isso, visto que não há empenho por parte dos patrocinadores, como
aconteceu em Xingu, de Cao Hamburger.
Em uma investida por parte do filho de um dos personagens verídicos que o filme
iria retratar, a produtora de Fernando
Meirelles aceitou produzir este filme que se faz justo na biografia dos
irmãos Villas-Boas.
Xingu narra a trajetória dos três irmãos Villas-Boas Orlando, Claudio e Leonardo.
Sertanistas, eles se aderem como voluntários na Marcha Para o Oeste, movimento
idealizado por Getúlio Vargas na década de quarenta para “redescobrir” a região
norte do Brasil, até então esquecida totalmente. Entretanto, ao invés de
catalogar lugares e construírem estradas, os irmãos Villas-Boas foram responsáveis
por ser os primeiros homens brancos a entrarem em contato com tribos do
interior da Amazônia que nunca haviam
feito contato com a “civilização” antes.
Trazendo os atores Felipe
Camargo, João Miguel e Caio Blat como os irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo
respectivamente, temos um projeto cinematográfico muito bem executado e
preocupado no respeito aos fatos reais. Cada um dos irmãos desempenhou um papel
importante na preservação e no cuidado daqueles povos que era descoberto, e Cao
Hamburger foi bastante cuidadoso e detalhista em demostrar a personalidade de
cada um, e as relações que estes tinham com os índios.
Orlando era um político voraz, lutava nas esferas superiores
pelos direitos dos indígenas, o que levava a contraste e impacto com Claudio
que preferia estar em contato frequente com os índios. O fascínio e a devoção
pela cultura “nova” que conhecia foi bem explorada emocionalmente por João
Miguel. E por último tínhamos Leonardo, o mais jovem e ainda inconsequente não
soube realmente identificar os limites que deveriam ser colocados naquela
situação.
Todos os ambientes de filmagens foram feitos no Norte,
inclusive com cenas dentro do Parque Indígena do Xingu, reserva que os irmãos
Villas-Boas lutaram para criar, e que é o motivo principal do filme. Os figurantes
eram todos indígenas, e sentiu-se o cuidado do diretor em expô-los da maneira
que são, sem os artifícios do cinema.
Como eu havia dito anteriormente, Xingu é um ótimo exemplo
da falta de interesse do público na cultura indígena, pois metade do orçamento
para o projeto veio de capital estrangeiro. O mesmo podemos dizer de Segredos
da Tribo.
Produzido pela HBO
e BBC, o diretor de Tropa de Elite (Tropa de Elite, Brasil, 2007) José
Padilha constrói um cenário bastante crítico e de difícil discussão entre
os embates dos antropólogos ideológicos nos estudos aos povos Ianomâmis. Para
quem não sabe exatamente, o primeiro contato e a comunicação com uma etnia indígena
só pode ser feita por antropólogos. Após esse primeiro dialogo, se inicia um
estudo como forma de conhecer e construir formas de preservar a cultura e meio
de vida desses povos. Entretanto, a forma como isso deve ser feito gera
bastante conflitos entre alguns antropólogos. A frase que acompanha o poster "Guerra tribal na selva acadêmica" é ideal para caracterizar o projeto. O documentário analisa a situação
por meio de entrevistas de ambos os lados e descobre um ambiente hostil de
intrigas econômicas, sociais e acadêmicas.
Visto que os principais antropólogos que atuaram nos estudos
da etnia eram estrangeiros, o filme é todo em língua inglesa, inclusive a narração.
A abordagem de Padilha é crua, deixando que os entrevistados falem livremente,
sentimos isso pela edição bastante sutil e honesta nos focos principais das
conversas. Assim assistimos as brigas e acusações de antropólogos uns aos
outros, com debates filosóficos e outros tanto banais para justificar as ações
empregadas durante o encontro com os povos indígenas. E para completar, Padilha
coloca a visão e fala do índio, e o sentimento desde por tudo o que aconteceu.
De alguma forma o sentimento pelo filme é que ele foi feito
para ser mostrado aos estrangeiros, embora seja essencial que o povo brasileiro
assistisse. Como parte integrante da nossa cultura e população, deveria ser
normal que as pessoas daqui soubessem o que acontece com nossos conterrâneos. O
melhor meio de sair da ignorância é buscando conhecer o desconhecido.
Segredos da Tribo em 2010 foi indicado como Melhor
Documentário no Festival de Sundance.
A abordagem de Padilha sem dúvida é única e corajosa ao mostrar as
perversidades que um “superior” pode manifestar no “inferior”. No centro dessa
briga ideológica e filosófica estão os índios da etnia Ianomâmis que se tornam
parte dessas intrigas que causam efeitos graves na vida dessas pessoas e sua
cultura.
Ambos os filmes deveriam ser assistidos pelo simples fato de
mostrarem algo que anos de ignorância e desprezo histórico foi cultivado na
mente dos brasileiros. A frase tão forte e dita em Xingu “No Brasil ninguém
gosta de índio", não deveria ser perpetuada visto a imensa carga cultural
que está entranhada na “civilização” vinda dos povos indígenas. Um povo que não
lembra da sua história é impossível que tenha um futuro.
Download
Xingu:
Muito obrigado!
ResponderExcluirAinda disponível?
ResponderExcluirTorrent nao esta mais disponivel. Queria muito baixar !
ResponderExcluirOlá, o link já está atualizado, ok? Abraços!
ExcluirNão estou conseguindo acessar o torrent =/
ResponderExcluirOlá Rômulo, vc tem que baixar o zip com o arquivo de torrent no link do MEGA que disponibilizei.
Excluiressa pora nao esta pegando esta dando erro , entao tira so ar essa desgraçao de gog
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