Contos Iranianos (crítica e download)

Desde do seu lançamento em 2014 no Festival de Veneza, eu procuro por Contos Iranianos (Ghesse-ha, Irã, 2014) de Rakhshan Bani-E'temad. Sinceramente eu nem procuro saber se chegará nos cinemas de minha cidade, porque as chances estão cada vez menores. O único estabelecimento que antes passava apenas filmes alternativos ao circuito hollywoodiano e de arte, ultimamente está se sucumbindo a inevitável aflição econômica, e com filmes como Todo Cão Vira Lata e Casamento Grego 2 em cartaz já diminui as expectativas.

Embora ainda não é encontrado na internet para download, consegui ver por meio do TelecinePlay (que surpresa hein?!). Visto que este filme também foi apresentado no Festival do Rio do ano passado, entende-se porque chegou na programação do Streaming.

Mas vamos ao que interessa. Contos Iranianos é uma seleção de contos interligados entre os personagens e que tratam do cotidiano e dramas em Teerã, principalmente pela perspectiva das mulheres iranianas. Aqui elas lutam para desempenhar os diversos papeis que a mulher precisa ter em um mundo masculino e opressor.

Com um roteiro brilhante (visto o prêmio de melhor Roteiro em Veneza 2014), Rakhshan Bani-E'temad conduz o filme com leveza, com doses de humor necessárias, mas que não retira em momento nenhum o caráter questionador de todos os contos. Ela não permite estereotipar a mulher do oriente médio, deixando claro como elas são necessárias em um país que tenta negar a modernidade mental da sua população.

A ironia ocorre pertinentemente em alguns contos, onde a diretora expõe a burocracia que se mistura com a má vontade das autoridades, e que se tornam combustíveis para que os problemas econômicos, sociais e políticos do Irã sejam dialogados. Mas são as personagens femininas que conduzem a narrativa: são idosas que enfrentam as autoridades e se torna voz de um grupo de operários, são mulheres que sustentam a casa sozinhas diante do desemprego dos maridos, mulheres que deram um basta na violência doméstica, mulheres que enfrentam a dura batalha do vício.

Não é a primeira vez inclusive que Rakhshan Bani-E'temad entra no assunto das drogas, principalmente do vicio nas mulheres. Retomando a personagem principal de Mainline (Khoon bazi, Irã, 2006), Sara, que em ambos os filmes foram protagonizadas pela atriz Baran Kosari, filha da diretora, que no filme de 2006 luta para vencer o vício da heroína com a ajuda de sua mãe. Em Contos Iranianos a mesma personagem ressurge livre do vício, como uma assiste social, trabalhando ativamente em uma instituição de reabilitação para mulheres. Sem dúvida este último seguimento da narrativa é o melhor, em que o personagem do versátil ator Peyman Moadi, enfrenta Sara, desafiando a refletir sobre o impacto de nossas ações no próximo, de como nós nos fechamos em nosso passado, e até onde o amor ao próximo é puro ou é uma mascara defensiva.  

A “Primeira Dama do Cinema Iraniano”, como é chamada Rakhshan Bani-E'temad, é sem dúvida uma fonte de inspiração para qualquer cineasta. Por seu tom ativista e questionador, foi processada pelo governo do país, e agora ela aguarda a sentença que está suspensa por tempo indeterminado. Entretanto, isso não impediu que ela continue dando voz as mulheres do seu povo, dando luz aos conflitos que um governo retrógrado tenta esconder. Com um final brilhante, digno do seu roteiro excelente, Rakhshan expõe um manifesto em defesa da liberdade criativa e cinematográfica dos seus irmãos cineastas.  Ainda bem que existem Rakhshan!

Abraços!

Donwload

Torrent (em breve)

Disponível no TelecinePlay.