Zhang Yimou

Biografia e Filmografia (download) de Zhang Yimou

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Filhas do Sol (critica e download)




O streaming está me deixando com vergonha de dizer que sou uma digna cinéfila. Me perco em tantos filmes que quero ver, e acabo por não ver nenhum, pela simples preguiça de baixar. A vida era mais fácil antes, sem as preocupações de trabalho e pandemia, sabe?

Enfim, eis que o Telecine trouxe (algo que temos que frisar é que o Telecine gosta de passar filmes das mostras do Festival de Cannes, não em tanta quantidade como poderia, mas certamente faz um trabalho infinitamente melhor que a Netflix, que se recusa a passar filmes fora do nível de entretenimento), Filhas do Sol, de Eva Husson. Exibido em Cannes em 2018, tem Golshifteh Farahani (amoooo!!!) como protagonista.

O filme de guerra trás um batalhão e mulheres curdas, prestes a recuperar um dos territórios perdidos pelo Estado Islâmico no Curdistão. Uma repórter, vivida por Emanuelle Bercot, acompanha essas mulheres nesse território hostil.



Vamos começar do começo: como já comentei aqui no blog antes, Curdistão é um território que vai da fronteira da Turquia, passa por uma parte da Síria, chegando até o Irã. Não é um país, embora tenha uma capital e um povo próprio, os curdos. Não são árabes, não são persas, são curdos. Com cultura e língua própria. Ao longo dos anos eles têm enfrentado as investidas da Turquia em dizimar a população curda (tida como inferior, pelos turcos) e mais recentemente a opressão do Estado Islâmico. Como não são uma nação reconhecida, seus recursos são mínimos, e o território é totalmente protegido pelo povo, da maneira que consegue.

Dessa forma, Filhas do Sol, embora trate de uma ficção, remete a fatos verídicos, pois os batalhões de mulheres curdas na região é comum. São elas que pegaram em armas e partiram para o ataque em defender sua terra dos invasores miseráveis do Estado Islâmico. Essas mulheres foram escravizadas, prisioneiras, tiveram seus maridos, pais e irmãos assassinados, e seus filhos levados para serem soldados do inimigo. Não há opção, além da luta. As filhas do Sol é uma referencia a bandeira curda, que mostra grandes raios solares.



Eva Husson, faz uma ode a essas mulheres, assim como uma lembrança a importância do jornalismo em conflitos assim. A repórter Mathilde H. é a personificação da falecida Marie Colvin, tão famosa pelo seu tapa olho, e morta enquanto cobria os bombardeios de Assad em Homs, na Siria. É bonito como a diretora consegue expor a responsabilidade e importância da mulher com armas e a da mulher com a câmera. Em um das cenas, em que Mathilde escuta um barulho suspeito do lado de fora, como é típico, se espera que ela pegue algo para que se defenda, mas sua mão vai até a câmera. Essa é a arma de uma repórter, deixar registrado as aberrações e tragédias humanas, na esperança que alguém veja e se importe. É uma luta constante, que como a personagem termina o filme “uma esperança que desafia a condição humana”.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Retrato de uma Jovem em Chamas (crítica e download)




Minha cara desaparecer por quase dois anos, e voltar com um comentário de romance sapatônico, né? Enfim, mas estou de volta!

Esses dois últimos anos foram de renovações na minha vida, de muitas novidades e mudanças que exigiam que me focasse em outras coisas. Me apaixonei e “desapaixonei”, voltei a estudar, comecei a bordar, enfim, tanta coisa aconteceu! Mas agora sinto que pode ser uma boa hora para retornar ao blog.



Eu iria começar este ano com Parasita, mas acho que seria obvio demais, vamos então do filme que enrolei horrores para assistir, e hoje me arrependo: Retrato de Uma Jovem em Chamas (Portrait de la jeune fille en feu, França, 2019) de Céline Sciamma.

Lembro-me da repercussão do filme no festival de Cannes do ano passado, tanto pelos comentários positivos ao filme, quanto ao relacionamento de uma das atrizes principais Adele Haenel com a diretora. Mas acredito que as criticas positivas foram o que me incentivaram assistir essa arte.

Sim, arte. O filme em si gira totalmente em torno da arte, da beleza da arte e da criação. Marienne (Noémie Merlant) é uma pintora contratada para fazer o retrato de Heloise (Adele Haenel), sem que esta saiba que está sendo retratada. O silêncio e a serenidade do filme se dá por essa constante observação da pintora para com sua musa.  A câmera conduz nosso olhar observando cada detalhe do rosto de Heloise, como se nossos olhos fossem os de Marienne. E assim como a pintora, também passamos a ficar fascinados com os mistérios que Heloise aos poucos vai se revelando.



Eu como pessoa formada em artes, não posso deixar de dizer como é delicioso ver os cenários correspondentes a um ambiente de criação. Marienne arruma a sala, cobre as janelas para controlar a entrada da luz, posiciona o cavalete. Mostra a posição correta para Heloise, escolhe a maneira correta de segurar as mãos, arruma o vestido, e se apaixona.

De forma serena, o envolvimento das duas se torna intenso, de uma forma que só o conhecimento que a intimidade trás pode proporcionar. Embora seja constante a sensação do termino, o sentimento é tão lindo que alimenta as esperanças de nós, meros mortais que acreditamos em romances puros.



Acho importante frisar, como o filme registra tão poucas imagens masculinas.  Marienne chega até a casa de Heloise por meio de um barco, onde marinheiros a levam até uma ilha próxima a costa. É apenas nesse momento que surgem homens em cena, como se a jovem pintora fosse se refugiar em uma terra como Trácia e Lesbos, onde apenas mulheres vivem. E assim continua o filme, onde em sua maior parte só a mãe de Heloise, vivida por Valerie Golino, e Sophie (Luana Bajrami) compartilham a casa com a pintora e a musa.

Estou encantada com Retrato de uma Jovem em Chamas! Encantada com a ternura, coma delicadeza e a bela sensação de que o amor pode ser infinito. Vejam!


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domingo, 25 de novembro de 2018

Em Pedaços (crítica e download)





Desde que Diane Kruger ganhou o premio de melhor atriz em Cannes 2017, que desejava ver o filme Em Pedaços (Aus dem Nichts, Alemanha, 2017). Já tem meses que fiz o download e está na minha pasta de filmes, mas nunca me dediquei a ele. Por fim, assisti ontem na estreia do Telecine Cult.

O filme de Fatih Akin esteve entre os indicados a Palma de Ouro, e ganhou o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Tudo de forma merecida! Escrito e dirigido pelo alemão de ascendência turca, trás Diane Kruger em seu melhor trabalho. Um papel que é visível à dedicação por parte da atriz. Eu que amo Troia, e detestava a atuação dela no filme, quem pensaria como Diane cresceria como atriz dessa forma.



Com o roteiro que gira em torno da vida de Kadja, uma esposa e mãe que tem seu mundo virado do avesso ao perder seu marido e filho em um ataque de bomba no local de trabalho. O desespero é maior ao saber que os causadores da tragédia foram membros de grupos nazistas. O marido é de origem curda.

Acredito que o mais interessante é que Fatih Akin não cria personagens socialmente vistas como “exemplares”, mas ainda assim vitimas. Colocar o marido como um ex-traficante, e com um duplo sentido de não sabermos realmente se ele ainda trabalhava com coisas ilegais, não tira em momento algum a revolta pelo ataque. Nuri e seu filho Rocco, foram brutalmente assassinados por sua origem étnica, somente isso. O que por si só é a mais das abomináveis coisas que existem.

A justiça aqui mostrada é controversa, e com uma sensação amarga de conivência. Com destreza, o filme detalha o julgamento, mostrando como pode ser nojento e surpreendente o trabalho dos advogados, deixando de forma intrigante a narrativa.



As cores são frias, sempre sendo filmadas no inverno. Kadja está sempre de preto, em um luto que se inicia antes da tragédia. A trilha sonora de Josh Homme é quase imperceptível, permitindo que os sons naturais e o silêncio sejam intensificados, com o intuito de deixar a narrativa a mais “crua” possível.

Talvez seja esse o objetivo de Fatih, deixar tudo o mais cru e seco possível. Não há espaço para vida em atos que envolvam crimes de adeptos ao nazismo. O final é realista, ao mostrar o nível da destruição que o ódio pode trazer.


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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Little Forest - Pequeno Bosque - (crítica e download)



Eu sou meio apaixonada pela Kim Tae-Ri! Eu me apaixono por atores/atrizes que já mostram um talento absurdo logo no inicio de carreira! A coreana estreou no seu primeiro longa com A Criada (Ah-ga-ssi, Coreia, 2016), como a protagonista Sook-He. Ela é absurda! Um carisma incrível, e modo de atuar completamente diferente ao típico coreano (não me refiro que ela trabalhe ao modo ocidental, de jeito nenhum), ela tem um estilo próprio.

A Netflix está transmitindo a ótima novela protagonizada por ela, Mr. Sunshine (que estou amando, recomento), mas venho comentar sobre Little Forest (Liteul Poreseuteu, Coreia, 2018). Que descoberta prazerosa é esse filme!



Sendo um remake da exitosa duologia japonesa de mesmo nome, que por sua vez foi inspirada em um mangá de sucesso no Japão. Eu não vi a versão japonesa, não quero e não preciso comparar nada. Talvez eu anime em ver algum momento, mas digo que a versão coreana é suficiente para mim.

Little Forest tem seu foco em Hye-Won (Kim Tae-Ri), uma jovem que vive em Seul , trabalha em uma loja de conveniência e vive um relacionamento sem proposito. Ela decide voltar para o campo, na cidade onde nasceu, para passar o inverno. Uma busca para se redescobrir e principalmente para reconstruir suas raízes.

O simbolismo do motivo principal do retorno, “voltei porque estava com fome”, é uma ironia ao demonstrar as diversas formas de fome na vida da personagem. Na vida da pessoa urbana por assim dizer.  Em uma sociedade coreana, em que a busca por um trabalho, pelo anseio material é obsessivo, que jovens se entregam facilmente ao álcool como única forma de conseguir recuperar as forças após um dia de trabalho. Hye-Won desiste de persistir no erro, e volta para recuperar as raízes que sua mãe ajudou a plantar. Pois por mais que fujamos, não podemos nos desconectar do lugar que crescemos.



O filme todo é conduzido nas lembranças da infância com sua mãe, e como esta a ajudou a criar o laço que o ser humano perde quando vai para a cidade, da natura e o homem.  Ao dedicar seus dias a cuida da terra, e tirar seu sustento dela, Hye –Won  consegue entender a parte que lhe falta.

Além de doses suaves de humor, temos uma ligação de amizade bonita. Hye entende cada um de seus amigos, cada um dos seus anseios e defeitos. Ao mesmo tempo que os amigos percebem a pessoa que ela quer se tornar. Mas nada é igual ao relacionamento com a mãe.

Usando a comida, como a forma concreta da união das duas, temos lindas cenas de sintonia entre os personagens. A mãe sabe exatamente o que a filha precisa, sabe os limites e o que precisa abdicar por ela. Não é atoa que a casa é pequena, com a cozinha sendo o foco principal do ambiente.



A câmera sempre enquadra as duas de forma que a cozinha seja o plano de fundo. Todos os momentos de reflexão não vem durando o preparo da comida, e sim no momento da refeição.  Quando elas estão abastecidas e agradecidas pelo o que a terra lhes dá, uma parte delas é reconstruída.

Little Forest é um filme essencial. É a reflexão que precisamos fazer sobre o excesso do materialismo, da falta de motivo. Principalmente, nos reconectar com a natureza do nosso interior, que é reflexo da natureza exterior que nos dá tudo, mas que insistimos em esquecer na selva de pedra que construímos em nós mesmos e vivemos.


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segunda-feira, 23 de julho de 2018

Tully (crítica e download)




Como Jason Reitman consegue fazer tantos projetos com o foco tão grande na mulher mãe, eu não sei. Como ele consegue ser tão bom nisso, sendo um homem, é mistério maior ainda! É tão gratificante que um homem possa fazer filmes que tentam retratar coisas exclusivamente femininas, perceber que homens podem sim ter sensibilidade suficiente para conseguir entender pelo menos o mínimo do que é maternidade.

Começando com Juno em 2007, e passando por Refém da Paixão (2013), Homens, Mulheres & Filhos (2014) e por fim Tully (2018). Sendo este ultimo, o segundo filme que ele trabalha com Charlize Theron como protagonista - o primeiro foi Jovens Adultos (2011) – é indiscutível o fato deste ser o melhor trabalho da parceria.



Marlo é uma mulher que está chegando aos 40. Tem dois filhos, sendo um deles com algum nível de autismo, e prestes a parir seu terceiro filho. São uma família de classe média, com um marido extremamente comum, trabalhador e meio alheio a seu papel na família. Existe uma atmosfera de pressão pela rotina exaustiva que ambos possuem, principalmente por Marlo.

Há muito tempo que os novos filmes estão se concentrando em ser reais sobre a maternidade, sobre a verdade de que o glamour do amor que esse momento possui não é possível para a maioria das mulheres. E para deixar isso claro, Reitman coloca a família rica do irmão de Marlo como a contradição. A realidade dos benefícios que o dinheiro pode trazer.

A única preocupação da cunhada de Marlo em seu nono mês de gravidez foi “não poder frequentar a academia”, uma realidade quilômetros de distancia da rotina de Marlo. Seu corpo esta diferente de forma que nem se lembra como era, não existe a sensação de sexualidade entre o casal. E para isso ela aceita a “ajuda” de uma babá noturna, Tully.


A escolha de Mackenzie Davis para a personagem não foi aleatória. A atriz com seus lindos olhos, iluminando as cenas que apresenta. Com uma doçura genuína, ela adentra a vida de Marlo como uma luz nas noites da mãe cansada. A juventude da babá consegue tocar nas partes esquecidas de si mesma. Ajudando a entender como sua vida chegou a esse ponto.

Tully é um bote salva-vidas, uma corda que precisou surgir para não permitir que Marlo se afogasse no mar das incertezas e dificuldades da realidade da maternidade e da realidade de tentar ser mulher antes de ser mãe.



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